Efeito Bolsonaro na votação da reforma

A PEC chegou à Câmara como projeto do governo, mas o Legislativo imprimiu seu DNA nela e é ele quem dá as cartas

Por: Da Redação  -  08/07/19  -  12:42

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência chega amanhã ao plenário da Câmara com grandes possibilidades de aprovação, mas sob o risco do reflexo das próximas cartadas do maior interessado nela, o presidente Jair Bolsonaro. Admitindo não entender de economia e ser ingênuo, Bolsonaro é muito sensível à pressão de suas bases. O melhor exemplo disso foi a tentativa dele de atender o pleito dos policiais da União, que pretendiam reduzir a idade mínima da aposentadoria. A iniciativa, por si só, já abriria o processo de desidratação da reforma antes mesmo de ir a plenário.


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mostrou que manda no trâmite da reforma. Ele não só vetou concessões aos policiais como veio a público explicar que não dá para atender uma categoria em detrimento de outras. Ele quis dar sinal às outras corporações de que a reforma não está aberta a alterações de última hora que possam reduzir a economia de R$1 trilhão em dez anos.


Por outro lado, Maia sinaliza a Bolsonaro que a Câmara vai resistir a interferências ou pressões do Planalto. O presidente da casa vê forte abalo à imagem do Legislativo, desgastada pelos escândalos de corrupção e, por isso, frágil às críticas de Bolsonaro e das redes sociais. Eles alardeiam que o Parlamento pratica a velha política e só quer cargos no governo.


Bolsonaro, como todo populista, está sensível aos grupos da sociedade que o elegeram. Dessa forma, vai tentar de novo obter concessões para as carreiras da segurança pública. É também um aceno à numerosa bancada eleita por essas categorias. O que se lamenta é que esses parlamentares, eleitos não só por seus familiares, mas pela população em geral que está inconformada com os altos níveis de violência, têm agido mais para defender causas de suas corporações. Até agora, não foram aprovadas mudanças profundas que possam inibir a audácia dos criminosos.


A preocupação de Maia é que os atos do presidente e a guerrilha das redes sociais tirem votos preciosos. O consenso na casa é de que a proposta será aprovada por, pelo menos, 320 parlamentares se o quórum atingir quase 500. Mas a PEC depende de 308 apoios para ir ao Senado, onde a aprovação é dada como certa. Também é previsível que as corporações realizem uma intensa pressão via redes sociais sobre suas bancadas no plenário da Câmara. Assim, Maia tem muita pressa para que a votação comece amanhã.


A PEC chegou à Câmara como projeto do governo, mas o Legislativo imprimiu seu DNA nela e é ele quem dá as cartas. A decisão do Planalto de não fazer uma farra dos cargos para cooptar parlamentares, o que é louvável, deixou a casa livre para desenvolver plenamente sua atribuição de discutir e votar projetos. Resta torcer para que o governo não atrapalhe o andamento da proposta.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter