E agora?

O Brasil teria condições de ser exemplo para o mundo no combate à pandemia do coronavírus. Perdeu a oportunidade

Por: Da Redação  -  10/08/20  -  11:06

Ter chegado à desconfortável marca de 100 mil mortos no País desencadeou em diversos setores da sociedade manifestações de toda ordem: de solidariedade aos parentes vitimados pelo coronavírus à reflexão econômica sobre o que significa ter subtraído dessas famílias pessoas que desempenhavam suas funções e sustentavam ou ajudavam a sustentar pais, filhos, avós e tios. Também não faltaram reflexões e duras críticas à postura da autoridade maior no País, o presidente Jair Bolsonaro e seu Ministério da Saúde, a quem caberia comandar o fluxo de informações, traçar diretrizes de ação, dar transparência aos números, encabeçar campanhas e conscientizar a população sobre as melhores condutas em cada uma das situações.


Para além de não ter assumido nenhum desses papeis, a falta maior é o silêncio. Já ficou para trás a emblemática frase que definia como “gripezinha” a covid-19, dita pelo presidente Jair Bolsonaro no início da pandemia, em março. Os números e sua repercussão fora do País já deixaram claro tratar-se de uma das maiores tragédias da humanidade no último século. Embora mais comedido nas falas, é razoável acreditar que o presidente continue pensando dessa forma, uma vez que não deixou de adotar práticas nada recomendadas pelas autoridades, como sair sem máscara e cumprimentar seus simpatizantes.


A pandemia do coronavírus não vai cessar porque o Brasil chegou aos 100 mil mortos. Tampouco vai reduzir o contágio ou tornar os novos casos menos agressivos ou assintomáticos. A pandemia do coronavírus corre solta nos lugares onde faltam diretrizes claras, pulso firme das autoridades, informação cristalina, infraestrutura adequada, suporte e recursos para suprir a rede pública que não dispõe de insumos e equipe técnica suficientes. E essas são as razões pelas quais é possível prever que mais algumas milhares de pessoas devam morrer nos próximos meses.


Nos estados e municípios onde o índice de contaminação vem decrescendo, é preciso reconhecer que houve ação forte de seus gestores, e a eles se deve creditar o mérito, São Paulo aí incluído, onde o índice de ocupação da rede hospitalar caiu à metade nos últimos 40 dias. A questão, porém, são os efeitos da pandemia ao longo dos próximos meses em um país de dimensão continental. Ainda que alguns estados tenham assumido a gestão completa de suas ações, independentemente do Governo Federal, não há como descartar estragos futuros a médio e longo prazos, frutos da lacuna de comando que está sendo deixada pelo Ministério da Saúde.


Há quase três meses no comando, o atual ministro, general Eduardo Pazuello, parece distante dos pilares mais lógicos para vencer a pandemia: o estímulo à Ciência e às ações cotidianas de controle, como o isolamento social. Pelos recursos envolvidos e a capacidade científica da comunidade acadêmica local, o Brasil poderia ser o exemplo. Uma pena, mas não será.


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