Drama de hospitais

País tem 1,95 leitos para cada 1000 habitantes, segundo IBGE

Por: Da Redação  -  04/01/20  -  18:58

Levantamento realizado pela Confederação Nacional de Saúde em parceria com a Federação Brasileira de Hospitais revelou que foram fechados, nos últimos oito anos, 560 hospitais privados no País. Isso significa a redução de 34.768 leitos, sendo que 94,7% deles eram de pequeno porte (com até 150 leitos), localizados em cidades do interior (66,7%), e praticamente a metade atendia pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).


A estimativa do setor é que, para repor os leitos perdidos, seriam necessários investimentos de R$ 28 bilhões. A crise, que muitos denominam de “morte lenta dos hospitais da rede privada”, traz grande preocupação uma vez que cresce a população idosa, exatamente aquela que mais necessita de cuidados médicos e hospitalares. Dados do IBGE mostram que, até 2060, o percentual de brasileiros com mais de 65 anos passará de 9,2% para 25,5% da população nacional.


O Brasil tinha 2,23 leitos para cada mil habitantes em 2010 (a Organização Mundial da Saúde preconiza 2 para cada mil habitantes), mas esse índice caiu para 1,95 em 2019, com um agravante: sua distribuição é bastante desigual em todo o País, com cidades e regiões bastante desassistidas.


Para reverter a atual situação, empreendedores da área apontam dois caminhos: a simplificação da carga tributária incidente sobre os serviços hospitalares e o reajuste da tabela do SUS que, defasada, não garante a remuneração mínima para os estabelecimentos, além da demora excessiva no repasse dos recursos.


As duas reivindicações são justificadas. Basta notar que 73,7% das unidades fechadas eram com fins lucrativos, percentual muito superior ao dos hospitais filantrópicos, que contam com isenções fiscais. E a defasagem da tabela SUS é problema antigo: o Conselho Federal de Medicina aponta que ela atinge 80% nos valores entre 2008 e 2014. O subfinanciamento crônico do SUS dificulta a realização de diversos serviços, incluindo os e média e alta complexidade, impedindo procedimentos absolutamente necessários.


Não basta, porém, destinar mais recursos à saúde no Brasil. Embora isso seja necessário e urgente, é preciso atentar para problemas estruturais, que envolvem, de um lado, a gestão das unidades e do sistema como um todo. Hospitais precisam atuar em rede, com atendimento complementar em diferentes áreas, e devem ter administrações qualificadas e competentes. Por outro lado, há a crescente demanda por tecnologia, que aumenta custos de modo exponencial, e é consequência do avanço da ciência e da medicina.


O tema exige amplo debate nacional, envolvendo principalmente hospitais, planos de saúde, as categorias profissionais, por meio de suas entidades representativas, e o setor público. Sem isso, os problemas continuarão se agravando, com consequências diretas para a população brasileira.


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