Discurso desanimador

A imprensa faz sua parte, que é informar a verdade e não a de divulgar os feitos dos políticos como eles gostariam

Por: Da Redação  -  06/01/21  -  09:07

O Tesouro Nacional tem a árdua tarefa neste ano de atrair os credores para cobrir a dívida de R$ 1,3 trilhão que está próxima de vencer. Portanto, preocupa o presidente Jair Bolsonaro se postar perante seus seguidores na saída do Palácio do Planalto, no primeiro dia útil do ano, e afirmar que o Brasil está quebrado e que não consegue fazer nada. O discurso pode até funcionar para seu eleitorado e seu ato parece ter sido bem pensado, mas como chefe do Executivo federal, ele tem um papel a zelar perante empresários, investidores do mercado financeiro e o consumidor. Em um momento tão difícil, de recrudescimento da pandemia após uma farra de aglomerações nas festas de fim de ano, o que a sociedade mais precisa é de falas de compromisso com a preservação de vidas e recuperação da economia. Deve-se ressaltar que apesar das perspectivas imediatas e do curto prazo (este semestre) serem bem negativas, uma campanha de vacinação terá importantes efeitos sanitários e na própria economia. Basta seguir o exemplo de Israel, país admirado pelo bolsonarismo, que na semana passada já tinha imunizado um décimo de sua população.


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Em seu discurso, ele se queixa que não conseguiu mexer na tabela do Imposto de Renda, uma das promessas de campanha. Bastava ter dado a ordem ao seu ministro da Economia - mas na área das contas públicas, Bolsonaro sabe, não basta mandar. Além dos números terem que fechar no final do mês, com ajuda dos recursos dos investidores que compram títulos do Tesouro (a receita com impostos não cobre as despesas), há uma série de regras de responsabilidade fiscal que obrigatoriamente precisam ser cumpridas. Para atender pelo menos a promessa do IRPF, teria sido necessário cortar despesas e segurar salários dos servidores, simultaneamente a outras tantas medidas de austeridade.


Em sua fala, o presidente acusa a imprensa ter “potencializado” o vírus, sinal de que ainda não vê a doença com todos os riscos sanitários que ela traz. A imprensa faz sua parte, que é informar a verdade e não a de divulgar os feitos dos políticos como eles gostariam. É através das notícias que o público toma suas decisões de uma forma crítica para o dia a dia, na hora de consumir, contra a pandemia e em relação a seus governantes.


Este governo tem seus dois últimos anos para mostrar a que veio. Muito tempo foi perdido com pautas desnecessárias e poucos avanços foram obtidos, como a reforma previdenciária, ainda que desidratada. Toda a sociedade foi atropelada pela pandemia e, apesar do negacionismo, Bolsonaro tomou medidas de apoio econômico que tiveram grandes resultados. Agora, mergulha em uma desorganização inaceitável frente a urgência da vacinação. O governo precisa reagir enquanto há tempo. Bolsonaro já recuou algumas vezes, como após os famigerados atos antidemocráticos, e passou a andar e com melhores índices de popularidade. É hora de retomar o caminho do acerto.


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