Dimensões do novo normal escolar

O principal risco continua sendo o sanitário. Basta acompanhar o drama da segunda onda em países europeus

Por: Da Redação  -  10/10/20  -  12:03

Nos bastidores do retorno às aulas físicas nesta semana em algumas escolas estaduais e particulares – as municipais continuam em situação remota – os alunos, pais, professores e gestores do ensino devem passar agora por momentos de grande tensão. Depois de sete meses sem convívio escolar, o mais demorado do mundo, segundo especialistas, o desafio é superar os prejuízos à aprendizagem.


Entretanto, o principal risco continua sendo o sanitário. Basta olhar com lupa a segunda onda de infecção em países europeus. Em Portugal, após algumas semanas de aulas, escolas foram surpreendidas por contaminações, impondo uma quarentena em salas específicas. O resultado é de um grande transtorno em meio a essa fase inédita de adaptação ao novo normal. 


Portanto, algumas questões são necessárias. Por exemplo, qual o planejamento das secretarias de Educação em caso do registro de casos de contaminação de alunos ou professores? A escola tem condições de saber quando um de seus alunos tem um parente infectado? Deve-se considerar ainda que, como há muitas famílias nas quais os avós se responsabilizam pelos netos, existem recomendações em relação aos riscos que correm? É preciso ressaltar que as novas infecções na Europa em sua maioria são de jovens que se aglomeraram e levaram o vírus para suas famílias. 


Os cuidados para evitar aglomerações e compartilhamento de objetivos em ambiente escolar também são importantíssimos. Como já existe um afrouxamento imprudente das normas de saúde nas ruas e em outros espaços, há o risco desse comportamento ser levado para dentro das escolas. Portanto, o uso de máscara o tempo todo será realmente cobrado? Passadas as primeiras semanas, mesas e materiais escolares continuarão sendo seriamente higienizados? 


Observando tais questionamentos e estes sendo rigorosamente seguidos, não há porque não haver retorno das aulas. Porém, como já afirmou a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Helena Guimarães de Castro, a retomada precisa levar em consideração as recomendações médicas. Em tempo de eleição e de muita ansiedade para a volta ao “mundo antigo”, fica o perigo de ordens atabalhoadas ou irresponsáveis. 


Reportagem publicada na edição de ontem de A Tribuna mostra também as dificuldades para cumprir o ano letivo, discutindo juntar 2020 e 2021 ou validar o ensino remoto até o fim do próximo ano para minimizar as perdas. Nas escolas públicas, teme-se intensa evasão, assim como a fuga de alunos da rede privada por dificuldades econômicas de seus pais. 


Aos poucos, o setor do ensino toma pé do pesadíssimo impacto que a pandemia deixará. A vacina não bastará, pois os reflexos do vírus no sistema escolar não sumirão de repente, exigindo em alguns momentos decisões centralizadas no governo e em outros uma consulta a pais, profissionais e próprios alunos sobre qual caminho tomar.


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