Desigualdade maior

O índice de Gini, principal medida da desigualdade da renda, aumentou de 0,538 para 0,545 entre 2017 e 2018

Por: Da Redação  -  21/10/19  -  21:07

A desigualdade social no Brasil é fato reconhecido. Os esforços para reduzi-la têm sido insuficientes, e dados recentes confirmam que a recente crise agravou mais ainda a situação, e a lenta retomada econômica não foi suficiente para amenizá-la. Ao contrário, a comparação entre 2017 e 2018, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, mostra a piora do quadro.


O índice de Gini, principal medida da desigualdade da renda, aumentou de 0,538 para 0,545 entre 2017 e 2018 (o indicador varia numa escala de zero - igualdade perfeita - e um - máxima concentração), e foi o terceiro ano consecutivo de piora. De 2017 para 2018 o ganho dos 10% mais pobres caiu 3,2%, para R$ 153 mensais, em média, enquanto o do 1% mais rico subiu 8,4%, chegando a R$ 27.774.


Apesar do aumento da desigualdade - reflexo direto do avanço maior da renda no topo da pirâmide - a pobreza recuou em 2018, com 52,8 milhões vivendo abaixo da linha da pobreza, quando eram 54,1 milhões no ano anterior, mas é preciso destacar que 8,3 milhões de brasileiros passaram a essa condição entre 2015 e 2017. Quando se leva em conta a miséria, a situação é pior, com elevação do número de pessoas nessa condição em 2018, confirmando aumento contínuo desde 2014. Neste ano, havia 9 milhões de indivíduos na pobreza extrema no Brasil; em 2018, eram 13,62 milhões. 


O Banco Mundial considera, para países de renda média como o Brasil, que a linha de corte da pobreza é uma renda de US$ 5,50 por pessoa por dia (R$ 421 por mês), enquanto na miséria a linha é US$ 1,90 (R$ 145 mensais). Deve ser motivo de preocupação extrema que um terço dos brasileiros - 66,42 milhões de pessoas - esteja nessas duas categorias, enquanto 1% da população receba 34 vezes o que ganham os 50% mais pobres. 


Estudos que agregam pesquisas domiciliares, subsídios e incentivos e declarações de imposto de renda mostram quadro ainda pior: o 1% mais rico no Brasil se apropria de 28,3% da renda total, e o País seria o segundo mais desigual do mundo, atrás apenas do Catar. 


A desigualdade é fenômeno espalhado na sociedade brasileira. Atinge mulheres e negros, e a disparidade tem forte aspecto regional, já que o Sudeste concentra renda maior do que todas as outras regiões brasileiras. O rendimento médio no Sudeste é R$ 2.572 mensais; no Nordeste, R$ 1.497. 


A concentração não deve ser vista como questão social, moral e ética: ela tem grande implicação econômica, uma vez que não haverá desenvolvimento efetivo no País com profunda desigualdade. Mudar essa realidade exige crescimento e geração de empregos como prioridade máxima, mas ao mesmo tempo políticas e ações que propiciem a distribuição melhor da renda nacional. Enfrentar esse problema é, sem dúvida, o grande desafio nacional. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter