Desgoverno e falta de foco

As urgências estão postas de lado e o Palácio do Planalto consome seu tempo com problemas do próprio entorno

Por: Da Redação  -  14/05/20  -  12:49

A revelação dos detalhes da reunião presidencial de 22 de abril e o caso do exame de Covid-19 de Jair Bolsonaro demonstram falta de foco na gestão federal e displicência com os problemas prioritários do momento. Não há dúvidas de que o Brasil tem duas urgências incontestáveis: as mais de 13 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus e o trágico impacto da pandemia na economia, que é uma recessão que promete ser avassaladora. Portanto, é inadmissível que o presidente se volte a outros temas que não estes e é preciso que Jair Bolsonaro demonstre algum bom senso e se volte para as grandes causas nacionais.


Porém, as urgências agora estão postas de lado e o Palácio do Planalto consome seu tempo com problemas de seu entorno, no caso, a sobrevivência política do próprio presidente. Os relatos de que Bolsonaro, na referida reunião do dia 22, alegou a proteção de sua família para trocar o chefe da Polícia Federal do Rio de Janeiro por uma pessoa de confiança são devastadores. O desfecho depende da exibição na íntegra do vídeo do encontro - como já se sabe das discussões constrangedoras saídas de lá, com ameaças antidemocráticas e grosseiras ao Supremo, prefeitos e governadores, não há motivo para alegar algum sigilo estratégico.


Aliás, deve-se notar que tal reunião também revela a falta de rumo desse governo, que enfrenta um ex-ministro, o ex-juiz Sergio Moro, que está bem argumentado para o embate e tem experiência no enfrentamento com presidentes. O atual está claramente acuado, tanto que contrariou seu discurso contra a velha política e começa a se aliar ao já conhecido Centrão, que tem práticas deploráveis. A meta não é apenas ter apoio para os projetos do Executivo, mas contar com votos caso o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), engatilhe algum pedido de impeachment. Inclusive essa parceria com o Centrão poderá ser testada logo com o projeto contra ideologia de gênero que o Palácio está prestes a encaminhar ao Parlamento. Essa proposta, que desengaveta a pauta de costumes, aliás, nada tem de prioridade para os tempos atuais de pandemia. 


Enquanto o Brasil sobe no ranking mundial dos números da covid-19, os hospitais ficam lotados e prefeitos de cidades vizinhas não se entendem sobre abrir ou fechar suas economias. Em meio a isso, o presidente segue alheio ao drama da saúde, talvez com a aposta de que não será cobrado pelo caos nos hospitais. 


As pesquisas já indicam uma insatisfação com essa confusão generalizada no governo, mas Bolsonaro segue confiante que manterá perto de 30% de apoio, suficientes para garanti-lo no segundo turno e encarnar o antipetismo de novo. Mas é preciso descer do palanque, com pés firmes na realidade. Segundo um modelo de estatística usado pela Casa Branca, o Brasil poderá registrar 88 mil mortes até agosto. Não há nenhum sinal de que o governo está atento a esse terror. 


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