Democracia em baixa

Pesquisa de opinião Barômetro das Américas mostrou situação preocupante no Brasil, com 58% dos entrevistados respondendo que estão insatisfeitos com o funcionamento da democracia

Por: Da Redação  -  06/06/19  -  19:29

A pesquisa de opinião Barômetro das Américas, realizada no continente para avaliar a percepção sobre o sistema democrático e as instituições políticas, mostrou situação preocupante no Brasil, com 58% dos entrevistados respondendo que estão insatisfeitos com o funcionamento da democracia.


Os dados da pesquisa revelam que a insatisfação com a democracia está ligada à baixa confiança nos políticos e nas instituições políticas. Embora isso não seja novidade, os números impressionam: apenas 13% confiam nos partidos políticos, 31% no Congresso e 33% em eleições. Em contrapartida, as Forças Armadas despontam nesse quesito, com 70% de confiabilidade. Na mesma linha, o drama da corrupção persiste: 79% acham que a maioria dos políticos é corrupta (29% todos, 50% mais da metade), o terceiro maior índice entre os 13 países pesquisados.


A descrença nos políticos e na política em geral atingiu diretamente partidos e líderes tradicionais nas últimas eleições. Em 2018, o PT foi severamente punido, enredado em corrupção e ineficiência, e alternativas moderadas, como o PSDB, também se viram na mesma situação, não surpreendendo que os eleitores, polarizados, tenham se inclinado para o campo oposto.


A ascensão da direita foi fulminante. Pela primeira vez desde 2012, há mais brasileiros que se declaram de direita do que de esquerda. Eles somam 39% do total (o maior percentual já registrado), enquanto os partidários da esquerda são 28%. É prematuro, entretanto, afirmar que houve forte inclinação conservadora por parte da população: analistas apontam que o sentimento antipetista e o desalento diante da corrupção (associada aos políticos que governaram o país nos últimos tempos, da esquerda ao centro) são as causas principais das preferências atuais, e não a genuína e profunda guinada para a direita.


Mas não há dúvida que os eleitores estão mais mobilizados por causas e ideias conservadoras. 35% dos entrevistados acreditam que um golpe militar é justificado em situações de muita corrupção, e 22% aprovam que o presidente feche o Congresso, o mais alto percentual desde que a pesquisa começou a ser realizada, em 2006.


O Supremo Tribunal Federal também enfrenta resistências. 38% dos pesquisados acham que é justificável que o presidente possa dissolver o órgão e governar sem ele se o País enfrentar dificuldades, quase três vezes mais do que no período 2008-2012. Entre os que estão à direita, esse percentual sobe para 52%, demonstrando insatisfação com as decisões da Corte Suprema.


A direita não é necessariamente antidemocrática. A onda conservadora recente fez com que o número de pessoas que consideram a democracia como melhor forma de governo tenha crescido de 52% em 2017 para 60%, e o respeito às instituições aumentado de 41% para 51% no mesmo período.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter