Crise na educação

Entre nomeações e cancelamentos, estão vagos importantes cargos como a Secretaria-Executiva e a Secretaria de Educação Básica

Por: Da Redação  -  28/03/19  -  21:08
Lição de casa: educação básica
Lição de casa: educação básica   Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em menos de 90 dias de gestão à frente do Ministério da Educação, o titular da pasta, Ricardo Vélez Rodríguez, enfrentou sucessivas crises, envolvendo nomeações e demissões nos principais cargos da área, além de ter tomado decisões que provocaram grandes polêmicas. Houve uma entrevista na qual o ministro disse que "universidade não é para todos", outra em que se referiu aos brasileiros como "canibais", que "roubam em aviões e hotéis", e culminou com o episódio da carta enviada às escolas pedindo que diretores filmassem alunos cantando o hino nacional, que concluía como lema de campanha do presidente Jair Bolsonaro.


Em março, Vélez iniciou mudanças em sua equipe, e isso deflagrou intensa disputa entre os grupos que compõem o Ministério, divididos entre olavistas (seguidores de Olavo de Carvalho, responsável pela indicação do ministro, e com forte influência ideológica em vários setores do governo), militares e técnicos ligados ao Centro Paula Souza.


Entre nomeações e cancelamentos, estão vagos importantes cargos como a Secretaria-Executiva e a Secretaria de Educação Básica. O secretário-executivo Luiz Antonio Tozi, do Centro Paula Souza, foi demitido por pressão dos olavistas, que também impediram a nomeação do substituto ligado a ele, Rubens Barreto, e continuaram contrários à nova opção, Iolene Lima. Embora evangélica, foi rechaçada pela bancada respectiva.


A última crise aconteceu no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). O presidente do órgão, Marcus Vinicius Rodrigues, ligado aos militares, suspendeu a avaliação federal da alfabetização, e foi demitido. Até agora, já aconteceram 15 exonerações, enquanto prosseguem ações polêmicas, que têm recebido críticas, como o decreto da nova política de alfabetização, anunciado como prioridade do governo, com a preferência pelo método fônico, em detrimento de abordagens construtivistas.


Há, claramente, um ministro enfraquecido, sem autonomia e condições para tomar medidas próprias, submetido à intensa disputa interna que, até aqui, demonstrou a força e o poder do grupo olavista, que tem conseguido eliminar, um a um, adversários e servidores que são tachados de inimigos.


Educação deve ser objeto de políticas de Estado, permanentes e duradouras, e não pode ser refém de guerra ideológica. É prioritário ao desenvolvimento do País que todas as crianças e jovens tenham acesso à escola, e que o ensino tenha qualidade, assegurando que todos aprendamos conteúdos fundamentais.


Não é esse o quadro nacional: faltam investimentos, infraestrutura, valorização e treinamento dos professores. Enfrentar esses problemas deveria constituir a agenda prioritária do Ministério da Educação, sem desperdício de tempo e energia em discussões internas e disputas entre grupos ideológicos.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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