Crise na Bolívia

Após três semanas de intensos protestos, com acusações de fraude no processo de apuração dos votos, crise culminou com a renúncia de todas as principais autoridades do país

Por: Da Redação  -  12/11/19  -  11:49

Após três semanas de intensos protestos depois das eleições presidenciais na Bolívia, com acusações de fraude no processo de apuração dos votos, a crise culminou com a renúncia de todas as principais autoridades do país. A situação ficou absolutamente fora de controle, na medida em que policiais se rebelaram, dizendo que não reprimiriam atos populares, e o comandante das Forças Armadas, Williams Kaliman, fez pronunciamento na TV sugerindo ao presidente que renunciasse para pacificar as ruas.


Renunciaram Evo Morales, o vice-presidente Álvaro García Linera, a presidente do Senado, Adriana Salvatierra e o presidente da Câmara, Victor Borda, deixando a Bolívia em autêntico vácuo de poder. A situação é tensa, e novas eleições devem ser convocadas em 90 dias. Enquanto isso, seguem as incertezas sobre o futuro de Evo Morales que, após renunciar, não deixou o país e permaneceu em Cochabamba, seu reduto político.


Os acontecimentos na Bolívia se somam a outros que vêm ocorrendo na América do Sul, como no Equador e Chile, países em que os governos têm sofrido derrotas significativas. No caso da Bolívia, ficou evidente que a cúpula militar rechaçou o presidente Evo Morales, forçando sua saída do cargo.


Embora sua trajetória no governo, iniciada em 2006, tenha trazido bons resultados sociais - a pobreza caiu de 59,9% para 34,6%; o crescimento vem se mantendo, com estimativa de 4% de aumento do PIB para 2019; o desemprego recuou de 8% para 3,5%; e a inflação, em queda, registrou apenas 2,3% em 2018 – pesaram contra ele as sucessivas ações contra o Estado de Direito, em manobras para se perpetuar no poder.


Ele foi reeleito duas vezes, e está completando o terceiro mandato. Um referendo nacional realizado em 2016 negou a ele o direito de concorrer a mais um período, mas isso acabou sendo autorizado pela Suprema Corte. O último e decisivo lance aconteceu agora, na contagem dos votos das eleições de outubro. Com 80% dos votos apurados, os resultados indicavam segundo turno entre Evo e o candidato da oposição, Carlos Mesa, mas a apuração foi suspensa por 24 horas, e posteriormente anunciada a vitória do presidente. 


O fato foi contestado, e comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) recomendou, de forma antecipada ao prazo estabelecido (que seria amanhã), que as eleições deveriam ser anuladas e que o processo começasse novamente. 


Evo Morales caiu pela excessiva ambição, sucumbindo ao tradicional caudilhismo histórico que existe na América Latina. Seus aliados falam em golpe de Estado, e Evo, ao renunciar, declarou que seu crime é “ser um líder sindical, ser indígena”. Na realidade, o apoio a seu governo ruiu: não só as Forças Armadas e a polícia, mas também a Central Obrera Boliviana (COB), sua aliada, se juntou à oposição para pedir a renúncia.


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