Crise na Argentina

Inflação, que chega a mais de 50% ao ano, provocou o empobrecimento geral da população

Por: Da Redação  -  24/04/19  -  19:52

A situação econômica na Argentina continua tensa e difícil. O pacote econômico anunciado pelo presidente Maurício Macri na última semana, cujo objetivo era conter a inflação e reativar o consumo, incluindo o congelamento de preços de mais de 60 itens da cesta básica por seis meses e de tarifas de eletricidade e de transporte até o fim do ano, foi muito mal recebido pelo mercado.


Na segunda-feira (22), o principal índice de ações da Bolsa de Buenos Aires fechou em queda de quase 4%, com destaque para a queda dos papeis do setor financeiro. O dólar subiu e o indicador de risco da empresa JP Morgan chegou a 858 pontos-base, número mais alto desde 2014.


A crise argentina é profunda. A inflação, que chega a mais de 50% ao ano, provocou o empobrecimento geral da população: no fim de 2018, estavam na pobreza 32% dos argentinos, mesmo nível de quando Macri assumiu o poder em 2015, visto à época como a ruptura com o populismo que marcou os governos anteriores, notadamente o de Cristina Kirchner, sua antecessora.


O país foi obrigado a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que aprovou plano de ajuda financeira recorde à Argentina de US$ 56,3 bilhões, no meio da crise cambal do ano passado. Destaque se que o programa de austeridade do organismo internacional foi inovador, dando ênfase sempre cedentes a proteger as camadas mais vulneráveis da sociedade, mas não conseguiu resultados efetivos nessa tentativa. A inflação segue altíssima e a miséria se alastra.


O pacote de Macri veio como tentativa desesperada de conter a erosão que seu governo sofre. Haverá eleição presidencial neste ano, e pesquisas de intenção de voto mostram que a ex-presidente Cristina Kirchner está com nove pontos de vantagem sobre Maurício Macri em eventual segundo turno disputado por ambos. A incerteza política só tem aumentado, ampliando-se as chances de um retorno a políticas populistas.


Isso, entretanto, não amenizará a crise. Ao contrário, poderá aprofundá-la, lançando o país em uma escalada crescente de irresponsabilidade fiscal, com consequências muito graves. Nesse difícil momento, analistas apontam que a única maneira de conter a insatisfação e aumentar a confiança no governo é o controle efetivo da inflação. Congelamento de preços, entretanto, não é remédio, como demonstram inúmeras experiências na história recente, tanto da Argentina como de outros países.


O mau desempenho argentino é impressionante. Em ranking de 95 países elaborado pela Universidade Johns Hopkins, que publica um índice da miséria anual que leva em conta desemprego, inflação e taxas de juro, a Argentina só fica à frente da Venezuela, sendo o segundo país mais miserável da lista. O drama é enorme, as soluções complicadas, e o panorama não é favorável nos próximos meses.


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