O ambiente foi tenso na segunda-feira (20). A presença do presidente Jair Bolsonaro em protesto na frente ao QG do Exército em Brasília no domingo (19), no qual manifestantes defendiam intervenção militar e volta do AI-5, causou reações em várias áreas, das Forças Armadas ao Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF).
Houve comunicado oficial do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, defendendo que "as Forças Armadas trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do País, sempre obedientes à Constituição Federal". O pronunciamento foi visto como parte de um esforço dos militares que fazem parte do Governo Federal para evitar que o gesto do presidente pudesse criar uma crise institucional no Brasil.
A ação surtiu efeito. Na segunda-feira, Bolsonaro moderou seu discurso e fez questão de enfatizar a defesa da democracia e da liberdade, chegando a discutir com manifestante na porta do Palácio da Alvorada, quando este defendeu fechamento do Supremo. O presidente rechaçou tal proposta, dizendo "esquece essa conversa de fechar", acrescentando que “aqui é democracia, com Congresso e STF abertos, livres e transparentes”. E fez questão de ressaltar que, no seu discurso de domingo, não falou nada contra qualquer poder, embora seu tom tenha sido agressivo e forte.
Em cima da caçamba de caminhonete, ele declarou que "acabou a época da patifaria" e gritou palavras de ordem como "agora é o povo no poder" e "não queremos negociar nada", em clara alusão às difíceis tratativas que vem enfrentando com o Congresso Nacional em várias questões. É questionável ainda a presença do presidente em um ato político convocado por grupos radicais, que defendiam, e todos sabiam disso, intervenção militar e fechamento do Congresso e do STF, além do apoio ao fim do isolamento social colocado em prática por Estados e Municípios contra a pandemia do novo coronavírus.
Mesmo sem defender essas bandeiras, a presença do presidente ao ato, sem contestá-las, acabou por avalizar a manifestação e dar força à pregação antidemocrática que alguns grupos insistem em realizar. O recuo foi providencial, entretanto, reduzindo as tensões que foram provocadas.
O presidente, que tem a legitimidade assegurada pela maioria que o elegeu, deve, no atual momento, preservar sua autoridade e contribuir, de forma decisiva, pela construção da unidade em torno do combate à pandemia. Não é hora para confrontos ideológicos, acusações à mídia, enfrentamentos com o Congresso, muito menos para manter posições ambíguas, como defender as instituições democráticas, mas, ao mesmo tempo, apoiar e comparecer a atos favoráveis ao autoritarismo.
Suas palavras finais no ato de domingo foram "Agora é Brasil". Que assim seja, sob sua liderança, com comportamento responsável e adequado.