Crise continua na Venezuela

A derrubada do governo de Maduro não aconteceu, nem houve a adesão das principais lideranças das Forças Armadas à chamada Operação Liberdade, liderada por Guaidó e López

Por: Da Redação  -  03/05/19  -  13:41

Ainda são incertos os desdobramentos do movimento desencadeado pelo autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, que, anunciando ter apoio significativo dos militares, convocou a população às ruas para "acabar com a usurpação". Ao seu lado estava o líder oposicionista Leopoldo López, que cumpria até então prisão domiciliar e fora liberado por seus guardas.


A derrubada do governo de Nicolás Maduro não aconteceu, entretanto, nem houve a adesão das principais lideranças das Forças Armadas à chamada Operação Liberdade, liderada por Guaidó e López. Este acabou, horas depois do início do movimento, refugiando-se, ao lado da esposa e da filha de 15 meses, na embaixada da Espanha, enquanto um grupo de 25 militares de baixa patente solicitou asilo na representação diplomática brasileira em Caracas.


Constatou-se, como destacou o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional brasileiro, general Augusto Heleno, que Guaidó continua fraco militarmente, apesar de contar com apoio popular na Venezuela e na comunidade internacional. Esse ponto é chave na atual crise: nenhuma ação de mudança no poder no país será bem sucedida se não conseguir atrair as Forças Armadas e pelo menos parte da Milícia Nacional Bolivariana.


As sucessivas tentativas de depor Maduro frustraram-se. A tentativa de sublevação com a entrada de ajuda humanitária a partir da Colômbia e do Brasil, que contou com aparato midiático nas duas fronteiras, também não trouxe resultados. Na realidade, o confronto tem radicalizado as posições do atual governo, e não há esforços concretos da diplomacia internacional para mediar o conflito e encontrar uma solução negociada.


Enquanto isso, a população sofre. A crise econômica é gigantesca, com inflação de 10.000.000% neste ano, segundo o FMI, desabastecimento, desemprego, violência. Somente neste ano já morreram 53 pessoas nas manifestações e confrontos entre governo e oposição.


A história recente mostra que as transições de regimes autoritários para democracias aconteceram pela negociação, como aconteceu na Espanha, Brasil, Chile. Não há dúvida que Maduro não reúne condições políticas para continuar no poder, mas é preciso encontrar uma saída, que passa principalmente pela cúpula militar. Insistir em ações espetaculares, que depois se frustram rapidamente, não é, definitivamente, o caminho para resolver a crise venezuelana.


Infelizmente, tem prevalecido no cenário internacional o enfrentamento. Não há ações efetivas de aproximação e diálogo com o atual governo do país que, confrontado, tem reagido da pior forma possível. Não se sabe como tudo vai acabar, mas os sinais são cada vez mais preocupantes, e podem levar a uma terrível guerra civil, com consequências imprevisíveis.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter