Coronavírus e venda de imóveis

As expectativas do setor eram otimistas para este ano, com o financiamento atingindo R$ 160 bilhões. A pandemia do coronavírus, entretanto, mudou o quadro

Por: Da Redação  -  22/03/20  -  11:20

O mercado imobiliário vinha se recuperando nos últimos meses. A retomada econômica, embora lenta e gradual, associada à queda na taxa de juros dos financiamentos e maior confiança das empresas e dos consumidores, provocou aumento no volume de negócios. Os novos financiamentos imobiliários com recursos do FGTS cresceram e somaram R$ 135 bilhões em 2019. Foi desempenho inferior ao de 2014 (R$ 155 bilhões), mas significativamente maior do que o registrado em 2017 (R$ 102 bilhões).


As expectativas do setor eram otimistas para este ano, com o financiamento atingindo R$ 160 bilhões. A pandemia do coronavírus, entretanto, mudou o quadro, e há muita incerteza em relação ao que irá acontecer nos próximos meses. É certo que os efeitos negativos virão no segundo trimestre, e a dúvida é se, com a provável superação do coronavírus até o meio do ano, será possível recuperar e retomar as atividades a partir de agosto.


O mercado pode ser beneficiado pela insegurança: em momentos de crise, como o atual, em que não há segurança para investimentos financeiros, muitas pessoas preferem buscar ativos fixos, como imóveis, vistos como moeda forte. A instabilidade pode, portanto, propiciar a realização de negócios, em movimento típico nos períodos de total instabilidade.


Há, entretanto, preocupação com os rumos do segmento de média renda, muito afetado pelos indicadores macroeconômicos, e também pela redução do ritmo de concessão de licenças para novos projetos imobiliários. É natural que as incorporadoras estejam mais cautelosas quanto à aquisição de terrenos e com novos lançamentos no mercado.


Até aqui, balanço feito em São Paulo mostra que não houve interrupção sensível no volume de vendas. No entanto, o avanço do coronavírus é muito recente, e seus efeitos na economia e na vida real foram percebidos há pouco mais de uma semana. Alguns empresários já admitem retrocesso nas vendas para a classe média (que representa 45% a 50% do mercado) e, a não ser que a crise seja muito rápida, o que não parece provável nesta altura, o ano estará perdido.


Existe alguma esperança quanto aos imóveis de alta renda (15% a 20% do mercado), para os quais haveria a demanda de investidores em busca de ativos seguros. Na faixa da habitação popular, o cenário é mais pessimista: mesmo antes da crise do coronavírus, a redução de recursos para o Programa Minha Casa Minha Vida já era expressiva, sem que o governo tenha apresentado alternativas a ele. Com a necessidade de aplicar recursos no combate à pandemia, será muito difícil que sejam liberadas verbas para moradias populares.


O cenário é incerto, e a paralisação inevitável. Resta conferir se o segundo semestre trará mudança, propiciando a continuidade do ciclo de recuperação do setor, que estava em curso no País e na região. 


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