Coronavírus e ideologia

Não se justifica, de modo algum, que se confunda problema grave de saúde pública, como é a pandemia do coronavírus, com discursos ideológicos fantasiosos

Por: Da Redação  -  18/03/20  -  09:39
Atualizado em 18/03/20 - 09:44

A pior atitude diante de um problema é negá-lo, como se ele não existisse. Com a pandemia do coronavírus, há, em primeiro lugar, muita desinformação, característica dos tempos atuais, em que proliferam nas redes sociais notícias falsas, muitas vezes absurdas e sem qualquer fundamento, mas que, infelizmente, são propagadas rapidamente. A gravidade da situação impõe cuidado ainda maior quanto a essa atitude, evitando que sejam disseminadas práticas que não condizem com as orientações das autoridades de saúde pública e que acabam por semear o pânico entre a população.


É preciso ter calma e equilíbrio nesse difícil momento. Embora não seja a primeira epidemia a atingir o planeta, essa é a primeira vez em que governos e sociedade se unem para deter a propagação do vírus e do contágio, em esforço que significa a redução drástica de atividades e de circulação das pessoas. Isso trará problemas e dificuldades, certamente, mas é a única maneira de tentar evitar o pior, que seria o exponencial aumento de casos por toda parte, com ameaça à vida de muitas pessoas, especialmente dos grupos mais vulneráveis.


Não se justifica, de modo algum, que se confunda problema grave de saúde pública, como é a pandemia do coronavírus, com discursos ideológicos fantasiosos. Circulam nas redes sociais mensagem e vídeos com ataques à globalização, imigração e liberdade de movimento. Em ação despropositada, há aqueles que afirmam que a doença é conspiração mundial das elites em conluio com as multinacionais do setor farmacêutico, com alegações que o alarmismo do coronavírus entrará na história como uma das maiores fraudes para manipular a economia, eliminar o dissenso e empurrar remédios obrigatórios.


Nessa linha delirante, surgem outras teorias conspiratórias que beiram o absurdo total: a crise como estratégia da esquerda norte-americana para desgastar o presidente Donald Trump antes das eleições deste ano; deliberada ação do governo chinês para semear o pânico no mundo, e com isso enfraquecer os demais países e acelerar a conquista do poder e hegemonia global por parte da China; ou enxergar as quedas das bolsas de valores de todo o mundo apenas como ação de especuladores que buscam maximizar seus lucros.


Outra consequência desse movimento é o ataque sistemático e furioso contra a mídia, acusando-a de propagar, de modo excessivo e desproporcional, os atuais problemas, realizando autêntico experimento psicológico de manipulação em escala global.


Nada disso se justifica. As pessoas podem ter convicções ideológicas, e defender, com vigor e determinação, suas visões sobre o mundo e a sociedade, mas é inaceitável que utilizem o coronavírus, com toda a sua gravidade, para manipular e negar o que está acontecendo – e, infelizmente, ameaçando – milhões de pessoas.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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