Confinamento com seriedade

Flexibilização das atuais medidas de quarentena para toda a população (excetuados serviços essenciais) é vista como prematura e pode levar o colapso ao sistema de saúde

Por: Da Redação  -  27/03/20  -  18:56

Em todo o mundo, governos adotaram ações de confinamento horizontal, impondo restrições rígidas à movimentação e contato entre as pessoas. Seguiram, assim, recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.


No Brasil, mais de 150 representantes da área da saúde, como hospitais, universidades, operadoras de convênios médicos e laboratórios, lançaram um manifesto criticando a posição dos que defendem o fim do isolamento social, alegando impactos que a paralisação provocará na economia. A flexibilização das atuais medidas de quarentena para toda a população (excetuados serviços essenciais) é vista como prematura e pode levar o colapso ao sistema de saúde. 


O importante é "achatar" a curva de propagação da doença, fazendo com que menos casos ocorram em prazo muito curto, e possibilitando assim que leitos, UTIs e hospitais sejam preparados, com equipamentos, para atender aos pacientes infectados com a Covid-19. 


Estudo realizado pelo Imperial College de Londres mostrou que as severas medidas de confinamento e distanciamento social adotadas pelo governo da China em Wuhan, epicentro da pandemia, e em outras províncias foram bem sucedidas para interromper a transmissão local do coronavírus. Passados cerca de dois meses, já começa a ser possível o retorno gradual à normalidade.


Isso, porém, não pode ser feito de modo precipitado. É preciso administrar e monitorar a quarentena em larga escala, e duas ações são fundamentais: aumentar a quantidade de testes rápidos para detectar os doentes e todos aqueles que apresentem sintomas, para identificá-los; e a partir daí tomar medidas concretas para garantir o seu isolamento.


O mesmo grupo britânico fez projeções para o Reino Unido, levando o governo a desistir de seus planos de buscar a "imunização de grupo", pois isso resultaria em 250 mil mortos, enquanto o confinamento reduziria as mortes para algumas dezenas de milhares. 


Não é razoável, portanto, que, contrariando todas as orientações da ciência, o presidente Jair Bolsonaro tenha defendido a volta ao trabalho e a reabertura das escolas, restringindo o isolamento aos mais vulneráveis. Dados do Censo de 2010 mostram que mais de 9 milhões de pessoas viviam no Brasil em residências coabitadas por netos, bisnetos e avós, número que deve ser ainda maior atualmente, tornando inevitável o contágio em massa dos mais idosos.


É importante discutir como evoluirá o confinamento nas próximas semanas, e seus efeitos na economia. Mas isso deve ser feito com seriedade e responsabilidade, e não baseado no confronto, na radicalização e com a intenção de polarizar o debate para incentivar a militância digital que se alinha, de modo incondicional e irracional, ao presidente. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter