Comitê do ontem

O combate à pandemia prescinde de medidas desnecessárias. Mas, se o grupo surgir, que adote saídas boas e longe da baixa política

Por: Da Redação  -  25/03/21  -  10:06

Brasileiro, homem do amanhã, é o título de uma crônica do escritor mineiro Paulo Mendes Campos, cuja morte completará 30 anos em julho. Resume-se na ideia de que a postergação consiste em uma característica nacional de adiar o bem, o mal e, ao tratar de poesia romântica, a morte. Um texto irônico e jocoso. Boa e breve leitura em época de circulação restrita.


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Sem margem para a graça, o promissor encontro de ontem cedo entre os presidentes dos três poderes, extensivo a alguns ministros e governadores aliados, resultou em procrastinar soluções para a pandemia de covid-19 que deveriam ter sido tomadas há 12 meses, muito antes da realização deste pesadelo.


Com base em declarações de participantes da reunião à imprensa, depreende-se que, chamado à responsabilidade na condução de saídas para a crise, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a criação de um comitê para coordenação de ações contra a doença. Foi sucedido pelos que clamaram pela necessidade de união nacional. Um governador aliado sugeriu isolamento social em “situações críticas”.


Foi uma reunião de senhores extremamente poderosos que não resultou em nada imediato. Não se definiu quem integrará o comitê nem quando se juntará pela primeira vez. Cada qual voltou na mesma para seu gabinete e para a realidade de seu Estado. Hoje, só amanhã.


Afora a notícia, houve uma breve polêmica. O Ministério da Saúde tinha pedido mais dados às prefeituras no cadastro de óbitos, o que atrasaria o trabalho e, ao menos em curto prazo, reduziria artificialmente o número diário de mortes. Voltou atrás. Mas se perde tempo.


O combate aos efeitos da pandemia, especialmente tenebrosos no Brasil, prescinde de manobras desnecessárias. Por isso, continuará útil a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que não retira do poder central o direito nem o dever de estar à frente da crise, mas também confere a estados e municípios o poder de decidir o que for preciso para conter a moléstia.


Uma boa notícia, para depois da Páscoa, é o início da imunização de profissionais de segurança pública e de educação no Estado. Foi anunciada também ontem pelo governador João Doria, que disse não ter sido convidado para o encontro em Brasília e classificou o comitê como de “adulação de presidente”.


Mais importante, porém, será o início da vacinação de trabalhadores cuja atividade é essencial à ordem pública e ao preparo de cidadãos para a vida em sociedade e ao mercado de trabalho. Estudo recente da Secretaria de Política Econômica do Governo Federal indica que o fechamento de escolas por causa da pandemia poderá provocar danos à economia por 15 anos. Isso decorreria da desigualdade no acesso ao ensino remoto e, assim, no aprendizado, na produtividade e aprofundaria desníveis sociais.


Como sugestão, o comitê poderia nacionalizar o plano paulista. Provaria o que Bolsonaro diz querer afastar: “qualquer politização da solução” da pandemia.


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