Brasil e China

Declarações provocaram incidente diplomático, e o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, manifestou sua indignação

Por: Da Redação  -  22/03/20  -  18:44

Foi profundamente inadequada, para dizer o mínimo, a postagem do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em seu Twitter, culpando a China pela pandemia do coronavírus e acusando o governo chinês de ocultar informações sobre a doença. Ele escreveu que “quem assistiu Chernobyl, vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura pretendeu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”.


As declarações provocaram incidente diplomático, e o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, manifestou sua indignação, considerando as palavras como um “insulto maléfico contra a China e o povo chinês”. Foi além, e em tom duro, afirmou que o deputado, “ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizade entre os nosso povos”.


No plano interno, a atitude foi condenada por vários setores, incluindo produtores, agroindústrias e políticos ruralistas, que classificaram a manifestação como infeliz e inconsequente, ameaçando as relações comerciais entre Brasil e China e o ritmo de abertura de novos mercados para produtos brasileiros no país asiático.


Embora o Itamaraty tenha condenado o embaixador chinês, dizendo que é inaceitável que ele compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil, o fato é que o deputado Eduardo Bolsonaro, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara e filho do presidente, agiu de modo inconsequente no episódio.


Tem sido reiterado que o enfrentamento ao coronavírus é tarefa global, que envolve a colaboração e o apoio de vários países, e que não cabe tratar o assunto de modo ideológico, principalmente baseado em acusações que circulam em redes sociais. Especialistas avaliam que, embora o incidente tenha tido até agora apenas consequências retóricas, há ameaças nas relações bilaterais entre o Brasil e a China.


A parceria comercial é muito expressiva – as exportações brasileiras para a China somaram US$ 65 bilhões em 2019 – e não pode ser menosprezada, e a retomada das atividades no país asiático, já em curso, terá importantes reflexos para a economia brasileira, notadamente para o agronegócio. A experiência dos chineses no combate ao coronavírus também é valiosa, e eles poderão ser fundamentais no fornecimento de equipamentos médicos para a contenção da doença. 


As relações internacionais são construídas e mantidas baseadas no respeito e em não interferência recíproca. O ataque do deputado Eduardo Bolsonaro não traz nenhuma contribuição ou vantagem para o Brasil. Ao contrário, indispõe o País com seu maior parceiro comercial, e compromete a cooperação global neste difícil momento.


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