Bolsonaro e a crise com o PSL

Tensão prossegue, e cabe avaliar as razões que levaram o presidente da República a iniciar a ofensiva contra seu partido

Por: Da Redação  -  11/10/19  -  20:02

A crise que envolveu o presidente Jair Bolsonaro e seu partido, PSL, ainda está longe de ser resolvida. As declarações públicas do chefe do Executivo deixaram claro seu descontentamento com a legenda, e as reuniões realizadas no Palácio do Planalto com deputados e advogados, visando buscar uma saída jurídica para que parlamentares possam deixar o partido sem perder o respectivo mandato, indicam o plano em curso.


Após dizer a um militante que "esquecesse o PSL e seu presidente, Luciano Bivar", que estaria, segundo ele, "queimado", o presidente amenizou o tom de suas críticas, diante dos sinais evidentes que ele não controla a maioria da bancada da legenda no Congresso. Mas a tensão prossegue, e cabe avaliar as razões que levaram Bolsonaro a iniciar a ofensiva contra seu partido.


A trajetória do presidente indica seu pouco apreço às siglas partidárias. Em sua carreira parlamentar, ele passou por sete legendas até filiar-se ao PSL, na véspera das eleições de 2018. Sua postura, de confronto e enfrentamento político permanente, alimenta-se de conflitos e lutas contra inimigos visíveis e invisíveis. Dessa forma, não surpreende a atual crise com o PSL, mas ela acaba por revelar a falta de estratégia na articulação política, que se reflete no instável apoio que o presidente tem no Congresso.


O PSL tem 53 deputados, cerca de 10% da Câmara, e apenas 4 senadores. É, contudo, sigla importante, que poderia ser a base de sustentação do governo. Não tem sido, porém, e o governo tem dependido do chamado Centrão para aprovar seus projetos, mas com apoio incerto e duvidoso.


A ruptura iminente tem a ver com as disputas municipais de 2020, e diz respeito principalmente ao controle dos diretórios do partido em São Paulo e Rio de Janeiro, e opõe lideranças como o líder do PSL no Senado, major Olímpio, aos filhos do presidente, Eduardo e Carlos Bolsonaro. Essas questões parecem muito mais relevantes do que as denúncias de suspeitas de candidaturas laranja que envolveram o PSL em Minas Gerais: até aqui, o presidente tem reiterado apoio ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, denunciado no caso pelo Ministério Público.


A tentativa de saída em massa do partido não se concretizou. Apenas 19 dos 53 deputados do PSL assinaram nota de apoio a Bolsonaro. É muito duvidoso que os dissidentes possam sair da sigla sem perder o mandato, ou pelo menos enfrentar um difícil e complicado processo judicial. Menos provável ainda é a ideia de levar para um novo partido os recursos do fundo partidário (R$ 110 milhões anuais) e do fundo eleitoral (que pode chegar a R$ 500 milhões em 2020).


A briga com o PSL é inútil e irrelevante, mas pode enfraquecer o presidente. Melhor seria dedicar-se a temas mais importantes no atual momento político e econômico do País.


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