Bolsa em questão

Bolsa é atividade de risco e assim deve ser compreendida. Mas sua expansão é necessária, uma vez que se trata de promover investimentos produtivos, e não meramente aplicações financeiras

Por: Da Redação  -  12/02/20  -  20:32

A forte alta do Ibovespa em 2019, que superou 30%, em cenário de baixa da taxa de juros, fazendo com que as aplicações tradicionais em renda fixa perdessem sua atratividade, tem provocado grande corrida de investidores em direção à Bolsa de Valores. As primeiras ofertas de ações do ano demonstraram a euforia provocada: em várias delas a demanda dos investidores foi grande, levando os preços ao teto da faixa pretendida nos lançamentos.


Especialistas começam a preocupar-se com o grande interesse, afirmando que as ofertas estão precificando perspectiva muito alta de crescimento das empresas, que poderá não se concretizar. Mas é reconhecido que o movimento atual reflete o elevado fluxo de recursos locais para a Bolsa em função da nova realidade financeira no país: basta notar que foram investidores brasileiros que ficaram com quase 60% da oferta recente de R$ 22 bilhões da Petrobras.


A relação preço/lucro (P/L) é parâmetro básico para entender o mercado e a viabilidade dos negócios. Atualmente, no Ibovespa, ela está próxima de 14 vezes, acima da média histórica que varia entre 11 e 12 vezes. Apesar do valor elevado, não se considera ainda que a Bolsa paulista estaria fora da realidade, embora alguns papéis específicos estejam caros.


O setor de consumo, por exemplo, disparou. Quando são consideradas apenas as ações ligadas à economia doméstica, o múltiplo P/L chega a 23,81 vezes. Mas em outras áreas, como bancos, o indicador é bem inferior (9,76 vezes), assim como no setor de commodities, no qual o P/L situa-se em 10,23 vezes.


Assim, gestores consideram que papéis da Vale, Petrobras e BR Distribuidora oferecem boas perspectivas, podendo ser valorizados. Os riscos estão no coronavírus, mas se ele não se tornar epidemia global e o crescimento voltar, as commodities agrícolas e minerais serão o caminho natural.


A confiança que o lucro das empresas possa avançar de 15% a 20% neste ano sustenta as previsões otimistas para a Bolsa de Valores no Brasil. Mesmo com o múltiplo P/L alto em vários setores, a expectativa é que as empresas possam proporcionar lucros acima da média. Há dúvidas sobre a construção civil - ela enfrentou muitos problemas nos últimos anos, mas voltou forte agora, e os preços das ações das empresas são considerados elevados.


Bolsa é, na essência, atividade de risco e assim deve ser compreendida. Mas sua expansão é necessária, uma vez que se trata de promover investimentos produtivos, e não meramente aplicações financeiras, como era a regra no Brasil até pouco tempo, alocando recursos em atividades que estimulam o empreendedorismo, a criação de empresas e a inovação tecnológica.


A confiança em ativos produtivos é ingrediente fundamental para a criação da riqueza e desenvolvimento socioeconômico, com a geração de empregos e renda, e deve, portanto, ser estimulada. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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