Barreira submersa

Projeto piloto que busca minimizar os efeitos das ressacas não deve ser desestimulado pela destruição de muretas na Ponta da Praia

Por: Da Redação  -  14/07/19  -  21:01

A destruição de 25 metros das muretas na Ponta da Praia e a volta da perda de sedimentos naquele trecho da orla santista não devem desestimular a aposta no projeto piloto que busca minimizar os efeitos da erosão e das ressacas. Isso porque os estragos nos muros equivalem a apenas 1,25% de seus dois quilômetros de extensão e também – antes – por ter ocorrido aumento de 20 centímetros no nível de areia acumulada com a barreira submersa implantada pelo estudo (onde, agora, se perdeu sedimento). Deve-se lembrar que a estrutura passou no final de semana por seu teste de fogo, quando houve uma combinação de maré alta com forte ressaca.


A barreira é composta por 49 sacos de areia, pesando 300 toneladas cada um. A estrutura forma um L a partir da direção da Rua Afonso Celso de Paula Lima, com a função de reduzir as forças da água. Existe ainda uma linha paralela à orla para combater a perda de areia. O trabalho é desenvolvido por professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entretanto, preocupa-se que o revés momentâneo vire justificativa para arrefecer o interesse pelo estudo. Os recursos empregados – R$ 3 milhões – são resultado de uma multa ambiental e foram liberados pelo Ministério Público. A expectativa é se os ganhos com a iniciativa, se comprovados (a proteção da Ponta da Praia contra ressaca e erosão), resultarão em investimento do poder público ou de outros eventuais modelos de parceria que puderem ser criados. Até o momento, a Prefeitura descarta a expansão por motivo previsível– falta de recursos.


Uma questão a desvendar é até que ponto o projeto funciona e se eventual redução dos fenômenos meteorológicos poderia ter mascarado um menor impacto naquela área. E ainda, em uma situação turbulenta ainda não vista, se a estrutura suportará seus efeitos. Os pesquisadores pretendem ampliar suas observações até agosto, período de maior ocorrência de ressacas. Segundo eles, a função dos sacos é dissipar a energia das ondas, o que na prática protege a praia da perda de areia. A engenheira civil da Unisanta Alexandra Sampaio lembra que a estrutura não têm a função de proteger contra a maré. Na semana retrasada, ocorreram ondas fortes conjugadas à maré elevada. Conforme a explicação dela, os bags podem ter atenuado as ondas, mas a maré as jogou a alturas elevadas, atingindo as muretas.


Até a Defesa Civil acha que a barreira submersa reduziu a força das ondas na Ponta da Praia. Mas como lembrou o climatologista Rodolfo Bonafim, a estrutura será insuficiente para enfrentar a elevação global do nível do mar. Ele recomenda consultar especialistas holandeses e de Veneza, experientes nesse tema. Tudo indica que esse projeto piloto é parte de um conjunto de medidas que dependerá de outros estudos e obras. A pesquisa e a intervenção físicas exigirão gastos e a cidade terá que decidir se estará disposta a investir na área ou se será melhor torcer pela sorte.


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