Ato inoportuno

Os protestos são legítimos na democracia. Realizados nas normas vigentes, constituem maneira normal do exercício da política

Por: Da Redação  -  23/05/19  -  13:21

Manifestações da população são legítimas na democracia. As pessoas têm o direito de exprimir, mediante atos públicos, suas opiniões, e isso não deve ser visto como perturbação da ordem. Realizadas de forma pacífica, de acordo com as normas vigentes, constituem maneira normal do exercício da política. Elas não podem, entretanto, ser banalizadas ou representar prática cotidiana, levada à exaustão. Se assim for, seus objetivos se desgastam e perdem força e legitimidade, na contramão do que pretendem os manifestantes.


Outra questão importante a ser considerada pelas lideranças que promovem tais atos é sua oportunidade. Sempre haverá temas e assuntos que justificam levar as pessoas às ruas, mas é preciso realizar a adequada avaliação de sua conveniência, levando em conta não só o momento político, como também as consequências dos atos que são promovidos, que podem ser contrárias ao que pretendem os manifestantes.


Os protestos que são anunciados para o próximo domingo em todo o País, convocados por ativistas pró governo, devem ser analisados sob essa ótica. O presidente Jair Bolsonaro e seus ministros já anunciaram que não participarão dos atos, e há clara divisão entre aqueles que apoiam o atual governo. No partido do presidente, o PSL, há quem não apoie as manifestações, como é o caso da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, e a deputada estadual Janaína Paschoal.


Vários grupos e organizações alinhadas às posições do governo, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem pra Rua (VPR), que atuaram nos protestos que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff, evitaram aderir à iniciativa. Sua justificativa é que há radicalismo excessivo no movimento, concentrado em fortes críticas aos poderes Legislativo e Judiciário.


De fato, apoiar o governo é legítimo, mas defender o fechamento do Congresso ou atacar ministros do Supremo Tribunal Federal representa exagero e excesso perigoso, que ameaça as instituições e o equilíbrio político nacional. Deve ser ressaltado que isso ocorre em um momento delicado, de fortes tensões entre Executivo e Legislativo, envolvendo importantes votações no Congresso, e pode complicar a articulação que foi promovida nesta semana que permitiu a votação de medidas provisórias que perderiam validade nos próximos dias.


O radicalismo não interessa a ninguém. Tem razão o governador João Doria (PSDB), que afirmou que os atos acontecem em momento não adequado, não sendo a hora para manifestações mais duras, mais agudas, nem pró nem contra. Para ele, o momento é de paz, equilíbrio e compreensão. Aqueles que apoiam o presidente devem muito mais preocupar se com a estabilidade do governo e o avanço das reformas estruturais, e não se envolverem protestos inflamados que só complicarão ainda mais o atual quadro político.


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