Apoiar 'pessoas' e pequenas empresas

O governo precisa não só ampliar o volume de recursos como acelerar a oferta deles, inclusive do que já foi disponibilizado

Por: Da Redação  -  15/05/20  -  12:13

Não há dúvidas de que a economia sofrerá traumas profundos decorrentes da pandemia do novo coronavírus. Ilude-se quem atribui o isolamento social, uma resposta dos governos para salvar vidas, como único motivo recessivo. A questão sanitária, além de provocar milhares de mortes e afastar, ainda que temporariamente, quantidade ainda maior de enfermos, interrompendo a produtividade das cadeias econômicas e o sustento das famílias, reprime intenções de consumo e desestabiliza tomadas de decisão de investimentos. O que fazer, então? Não há outro caminho a não ser o caixa público socorrer o setor privado – em um nível mais elevado do que se fez agora. 


Como se trata de uma crise de motivação (pandemia) e dimensão (queda aguda) inéditas, o governo precisa não só ampliar o volume de recursos ofertados como acelerar a disponibilidade deles, inclusive do que já foi oferecido, como o auxílio mensal de R$ 600 e o crédito para as pequenas e médias empresas. 


Estas últimas formam o elo mais fraco da economia e, infelizmente, são a porção que recebe amparo tardiamente. As grandes companhias também estão em apuros, exceto aquelas que preventivamente ou por sua natureza costumam manter recursos em caixa abundantes. Entretanto, este grupo mais robusto agora fragilizado tem canais com o governo e o sistema financeiro que agilizam a liberação de empréstimos. Tanto que ontem seus principais líderes se reuniram por meio de live com o presidente Jair Bolsonaro, que culpa unicamente o isolamento, agora evoluindo para lockdown, como o culpado pela recessão que se avoluma.


Já a pequena empresa acaba enfrentando restrições cadastrais e juros mais altos devido ao seu histórico debilitado. Mas é difícil estar em situação diferente, considerando a tradição brasileira de instabilidade econômica. Segundo dados do Banco Central, 61,7 mil negócios de menor porte tomaram R$ 1,4 bilhão em crédito para financiar salários de 1 milhão de trabalhadores. Os números impressionam, mas se trata de um montante que terá que ser pago durante um duro pós-pandemia. Com certeza, serão quitados a duras penas. 


O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, que se mostra uma das vozes mais sensatas da ala econômica do governo, disse que o deficit público neste ano pode chegar a R$ 700 bilhões (9% do PIB) – antes, o rombo almejado era do entorno de R$ 130 bilhões. Porém, ele complementa que a prioridade não é o ajuste fiscal, mas apoiar “pessoas”. 


Entretanto, grandes investidores relatam dúvidas sobre a capacidade do governo de administrar esse caos fiscal. O poder central tem artifícios que estados e municípios não contam, que é a emissão de moeda, uma medida radical e arriscada, além de gerar efeito para os próximos anos. A inflação baixa ameniza os temores, mas nada indica que ela não vá reaparecer nos próximos anos. Daí a necessidade de um plano bem delineado. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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