Alerta na construção civil

Panorama atual é de muita preocupação na área; atividade econômica depende de confiança, tanto de empresários como de consumidores

Por: Da Redação  -  25/04/19  -  13:08

O setor da construção civil, que emprega milhares de pessoas no País, foi um dos mais afetados pela recente crise econômica. Diz-se, com muita razão, que, dadas as características da atividade, principalmente a necessidade de financiamento público e privado e longo ciclo de produção, ele acaba sendo rapidamente afetado em processos recessivos e sua retomada é difícil e exige muito tempo.


No Brasil foi atingido tanto a área pública - as contratações de obras foram reduzidas em função da falta de recursos à disposição pelos diferentes níveis de governo - quanto o mercado imobiliário. Os compradores desapareceram dos plantões de venda, diante do desemprego e da queda na renda, além do receio natural em assumir compromissos financeiros de longo prazo. Muitos negócios acabaram desfeitos - os chamados distratos - provocando enormes desequilíbrios para incorporadoras e construtoras.


Foram dispensados milhares de trabalhadores, de engenheiros a ajudantes em obras. A situação ainda não se normalizou na área, e os problemas persistem. Um dos segmentos que trouxe alguma perspectiva para o mercado foi o da habitação popular. Grandes empresas especializaram-se em oferecer projetos para o Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), e assim puderam sobreviver e ao mesmo tempo contribuir para o atendimento da demanda social por habitações.


O panorama atual é de muita preocupação na área. O contingenciamento de recursos, determinado pelo governo federal no início deste ano, atingiu o Programa, especialmente nas faixas de renda menor, nas quais há subsídio para as famílias, notadamente na faixa 1, destinada a famílias com renda de até R$ 1.800 mensais, no qual 90% do valor dos imóveis depende de repasses de recursos do Orçamento, por meio do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR).


Já há cerca de R$ 550 milhões de desembolsos atrasados, e o governo decidiu liberar R$ 800 milhões adicionais para o Minha Casa, Minha Vida, mas isso não será suficiente. Há temores que as obras correspondentes possam vir a ser paralisadas em maio, com incertezas generalizadas no setor. Se isso se concretizar, o mercado imobiliário será afetado em cheio, com reflexo em construtoras de grande porte que atuam no Programa. Ressalte-se que metade das unidades lançadas na cidade de São Paulo em 2018 pertencia ao MCMV.


A atividade econômica depende de confiança, tanto de empresários como de consumidores. Se o Programa for abalado, sua recuperação será extremamente lenta e difícil, já que será interrompida a procura por terrenos e projetos serão adiados (ou cancelados). É fundamental, portanto, que a situação seja revertida, rapidamente. Não se trata do mercado imobiliário apenas: está em jogo o futuro da habitação popular no Brasil, a exigir prioridade e solução imediata.


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