Abrandamento impensável

Já se admite protocolo para o momento em que os médicos terão que escolher quais vidas serão salvas

Por: Da Redação  -  09/05/20  -  12:26

Com isolamento social abaixo do esperado, curva de casos que se acentuou no Interior, baixa testagem e estrangulamento da oferta de leitos, o governador João Doria optou de forma sensata por prorrogar a quarentena, que acabaria no domingo (10), para o próximo dia 31. Doria alertou para a gravidade do momento, com a aceleração do ritmo de registro de mortes e a alta incidência do coronavírus também no Litoral. Ele, inclusive, admitiu tomar medidas mais duras se assim indicarem análises técnicas sobre o risco de contaminação.


O impacto econômico dessas restrições já é gigantesco e deve se ampliar, mas a prioridade é preservar vidas. A principal característica da covid-19 é a rapidez da transmissão, o que surpreendeu governos no mundo todo, mas, infelizmente muito tempo foi perdido no Brasil com discussões sobre o que devia ser feito em relação às restrições. O País teve a oportunidade de observar o avanço do coronavírus nos demais continentes, qual a infraestrutura necessária e as estratégias mais eficientes, desperdiçando todas essas condições. Agora corre contra o tempo perdido. 


Se tivesse ocorrido uma ação coordenada entre Governo Federal, estados e municípios, sem os delírios de movimentos negacionistas ou eleitoreiros, os resultados contra a pandemia do novo coronavírus seriam mais satisfatórios.


Falta saber qual será a intensidade dessa quarentena prorrogada, apesar do governador admitir o uso do maior rigor. Se nos moldes atuais com baixa adesão de isolamento que abre brechas para a covid-19 avançar, ou por meio do lockdown, com medidas mais rígidas contra a socialização. Em entrevista, Doria mantém a expectativa de que o impacto das mortes exibidas na mídia convençam a população a ficar em casa. Se a estratégia continuar sendo apenas essa, há risco de insucesso. O Governo do Estado, que antes mirava adesão ao isolamento de 70%, agora já aceita por volta de 55%, mas ela permanece abaixo de 50%.


O que mais impressiona é que, em meio ao pesar de muitas famílias e às dificuldades dos que perderam seu emprego, o presidente Jair Bolsonaro planeja realizar um churrasco neste final de semana. Além do deboche evidente e de desrespeitar seu novo ministro da Saúde, Nelson Teich, que, ainda que timidamente, recomenda o isolamento, Bolsonaro presta um péssimo exemplo de aglomeração para a população.


Enquanto isso, o novo coronavírus se espalha pelas periferias e cidades pequenas do Interior, onde há uma estrutura deficiente para tratar as vítimas. Há municípios que não têm UTI ou nem um só respirador, o que obriga a transferência de pacientes para hospitais distantes e provavelmente lotados. Aliás, os leitos hospitalares estão perto da ocupação total e já se admite protocolo para o momento em que os médicos terão que escolher quais vidas serão salvas. Assim, o abrandamento das restrições é impensável neste momento.


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