A criação do Prosul

Oito presidentes de países sul-americanos assinaram, na última semana, o tratado de criação de um novo organismo regional

Por: Da Redação  -  29/03/19  -  18:44

Oito presidentes de países sul-americanos assinaram, na última semana, o tratado de criação de um novo organismo regional, o Prosul (Foro para o Progresso da América do Sul). O presidente do Chile, Sebastián Piñera, que assumiu a presidência do bloco por um ano, na sua fase de implementação, declarou que o grupo não terá ideologia, representando as diversidades de cada país, sem burocracias e com ação mais pragmática. Afirmou ainda que o bloco está aberto para todos os países da América do Sul, e que seu compromisso é com a democracia, liberdade e direitos humanos.


O ato de criação do Prosul foi visto, entretanto, como um movimento político que reflete a nova correlação de forças e a maior presença de governos conservadores no continente, representando a reação contra a Unasul, coalizão de esquerda fundada em 2008, inicialmente com 12 nações, mas que está hoje apenas com cinco membros.


A Declaração de Santiago, que marcou o compromisso de criar o Prosul, afirma que a América do Sul deve ser preservada como zona de paz, com respeito à integridade territorial dos países da região, mas exigindo como requisito fundamental para participação do bloco a "plena vigência da democracia", estratégia que exclui a Venezuela, que não foi convidada para a reunião. Ficou claro que, enquanto Nicolás Maduro estiver no poder, o Prosul não aceitará a adesão venezuelana, em mais um ato de pressão para a democratização do país e de isolamento da atual ditadura.


A articulação de blocos regionais é necessária e conveniente por razões econômicas, sociais e políticas. Há a experiência da União Europeia, que, apesar de problemas, como o Brexit, saída do Reino Unido da organização, tem resistido, com estabilidade e avanços. Na América do Sul (e, de forma mais ampla, na América Latina), os resultados têm sido muito mais modestos.


O Mercosul, instituído em 1991, não logrou grande êxito, sem cumprir seus objetivos. Outras iniciativas também não foram adiante - a Alca, proposta em 1994 pelos EUA para unir o continente em acordos de livre comércio,nunca entrou em funcionamento; a Unasul esvaziou-se; o Celac, de 2010, com 33 países latinos e caribenhos,está enfraquecido.


Alianças regionais são importantes, mas não podem ser criadas e desfeitas ao sabor de interesses ideológicos ou conjunturas políticas. Ao contrário de propor novas entidades, melhor seria reforçar as existentes, dando-lhes consistência e capacidade de agir em benefícios dos interesses dos vários países. Na América do Sul, entretanto, essa atitude não tem prevalecido, e o resultado é a fragilidade das organizações, que não cumprem seus objetivos nem contribuem, de maneira efetiva, para a integração regional, primordial para promover acordos de comércio com outros blocos internacionais.


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