A conversa do Brasil com Biden

Em dois anos, os recursos do Ibama e do ICMBio contra desmate e queimadas e para fiscalização caíram 38%

Por: Da Redação  -  21/02/21  -  08:50

Após 30 dias da assinatura do presidente americano Joe Biden, entrou em vigor na sexta-feira o retorno dos Estados Unidos ao Acordo do Clima de Paris de 2015. A volta dos EUA ao tratado é da maior importância, com implicações sobre o Brasil, cujo governo tem uma política ambiental contaminada pelo negacionismo trumpista nessa área. Porém, de forma surpreendente, os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, participaram de um encontro com o assessor especial da Casa Branca para o Clima, John Kerry, na semana passada, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. Ao invés de troca de ameaças, considerando as imensas divergências ambientais entre os dois lados, houve pragmatismo. A discussão se baseou em criar arranjo financeiro para amarrar um compromisso brasileiro de preservar as florestas e reduzir a emissão de gases, com a promessa de que os americanos vão respeitar tema caro ao bolsonarismo e da ala militar no governo, que é a soberania nacional sobre a Amazônia. Um acordo nesses moldes ainda vai ser elaborado e, pelo bem da floresta, espera-se que seja para valer.


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De acordo com o Estadão, as verbas que o Brasil dispõe para preservar o meio ambiente vão de mal a pior por iniciativa do próprio governo, que passou a tesoura no Ibama e no Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), especializados em combater desmatamento e queimada e em fiscalização. Em dois anos, os recursos das duas entidades para essas três atividades caíram de R$ 341 milhões para R$ 209 milhões, um recuo de 38%. O resultado dessa estupidez pode ser traduzido com o aumento do desmate da Amazônia, de 9,5%, e da devastação, de agosto de 2019 a julho de 2020, de 11.088 Km²– o equivalente a cinco vezes a área da Baixada Santista.


O Acordo de Paris celebra uma série de medidas para reduzir o aquecimento global em pelo menos 1,5°C e acelerar o desenvolvimento sustentável. Portanto, daqui para frente, os EUA implantarão essas iniciativas com maior seriedade – e é provável que exijam comportamento igual de seus parceiros. Por o tema ambiental ser um dos pilares do agenda ideológica bolsonarista, os movimentos do Governo Joe Biden rumo à sustentabilidade trazem a possibilidade de um cerco ao Brasil pela maior potência mundial. Não se deve esquecer que o então candidato democrata afirmou em debate eleitoral que estaria disposto a retaliar o Brasil caso o País não combatesse a devastação da Amazônia. O medo é de consequências drásticas para o agronegócio e mineração, que tem significativas áreas de produção em áreas desmatadas.


Com péssimas relações com economias poderosas, como China e França, o governo parece se esforçar para manter aberto o canal com os EUA. Entretanto, sem sinais claros na área ambiental, o risco será de isolamento com reflexos preocupantes para os exportadores.


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