A conta do quadrimestre

Brigas entre ministros, judicialização da vacina e negação do desmatamento geram terrível impressão de desgoverno

Por: Da Redação  -  29/10/20  -  10:12

Entre janeiro e abril o governo terá que pagar uma fatura de estratosféricos R$ 643 bilhões. Esse é o volume em dívidas federais que vencem nesse período (terão que ser devolvidos aos credores). Para tentar compreender a dimensão dessa cifra, ela equivale a 15% de todo o endividamento público interno ou a 12 meses de auxílio emergencial de R$ 600. A solução será o governo emitir novos títulos públicos, trocando o compromisso antigo pelo novo. Porém, nos últimos meses o governo tem feito um esforço enorme para identificar fontes de financiamento do Renda Cidadã, um programa social fundamental para dar suporte aos miseráveis ou aos pobres que podem entrar nessa condição nos próximos meses. Mesmo que a economia sofra menos do que se esperava, os índices de desemprego permanecerão elevados e deverão até aumentar assim que a suspensão de contratos de trabalho ou redução de jornada e salários perder efeito. Com a recessão, muitas empresas fecharão postos de trabalho. Apenas não se sabe a que ritmo isso se dará. 


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Pois é nesse contexto que acabou a lua de mel do mercado com o Governo Bolsonaro. Sem sinais claros de reformas e com possível aumento dos gastos federais, os grandes investidores querem forçar o Tesouro a pagar mais pelos títulos públicos. Caso a equipe econômica não consiga resistir, as taxas subiriam progressivamente para convencer o credor a sustentar um devedor cada vez mais pesado. Esse é o caminho da deterioração fiscal e o fim das esperanças de haver investimentos essenciais para a sociedade e para reaquecer a economia. 


Por isso, é essencial que o presidente Jair Bolsonaro pare de gastar energia com brigas palacianas e propostas da ala ideológica que só dividem os aliados no Congresso. O ato de governar com olho só em 2022, antecipando tão cedo a campanha, traz uma percepção de desleixo com problemas imediatos, desde melhorar os ineficientes serviços públicos a pagar as contas que vencem no curto prazo. 


Para piorar o quadro, a sustentação bolsonarista no Parlamento é altamente gastadora. A começar pelo Centrão, que precisa de cargos com verbas robustas para manter seus redutos eleitorais. O mercado entende os meandros da política, como brigas entre rivais (Bolsonaro x Doria) e dificuldades para formar base para aprovar projetos, mas é sensível a sinais para ajustar preços frente a ganhos ou eventuais perdas (consequentemente quedas ou altas da bolsa). 


Entretanto, brigas entre ministros, negação da destruição da mata, despreparo para lidar com eventual vitória democrata nos EUA e judicialização da vacina, essencial para acelerar a economia, também geram terrível impressão de desgoverno. A encrenca da dívida pública é desafiadora e sem paralelo recente. O Palácio do Planalto superou etapa importante, que foi deixar para trás o conflito com os outros poderes. Que continue assim, mas, agora, é preciso convencer sobre sua capacidade de governar.


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