São-joão sem pandemia

Oba! Junho é mês de muitos santos. Santo Antônio, São João e São Pedro recebem homenagens e ganham festas. A mais legal é a de são-joão

Por: Dad Squarisi  -  24/06/20  -  12:37

Recado


“Esperança é a palavra mais bonita da nossa língua.”
João Carlos Martins


Oba! Junho é mês de muitos santos. Santo Antônio, São João e São Pedro recebem homenagens e ganham festas. A mais legal é a de são-joão. Adultos e crianças se vestem de caipira e caem na farra: dançam a quadrilha, pulam a fogueira, participam do casamento na roça, pescam surpresas, comem delícias. Ali, a gula não é pecado.


Ninguém precisa resistir à tentação de canjicas, pipocas, churrasquinhos, paçocas, pamonhas, cachorros-quentes, pés de moleque & cia. prazerosa. Na faceirice geral, uma restrição se impõe. Trata-se de respeitar a grafia nota 10. O nome do santo é substantivo próprio. Escreve-se São João. O da festa é substantivo comum. Grafa-se são-joão. Desse jeitinho — com hífen e letra minúscula. O plural? É são-joões. 


Quadrilha


O numeral quatro formou senhora família. Entre os membros, quadrilha. Quando nasceu, o substantivo designava grupo de quatro pessoas. Depois, ganhou espaço. Passou a significar grupo de quatro integrantes, humanos ou não humanos. É o caso de esquadra (navios), esquadrilha (aviões), quadra (estrofe de quatro versos), quadrado (quatro lados), quadruplicar (multiplicar por quatro). E por aí vai.


Quadrilha é dança pra lá de popular nas festas juninas. Ganha destaque em junho e julho. Depois se recolhe. Soma forças e cores pra brilhar no ano seguinte. Quadrilha é, também, grupo de ladrões, malfeitores, bandidos. Nessa acepção, faz a festa. Sem ligar para o número de componentes, deita e rola nas 24 horas dos 365 dias do ano.


Um é pouco, dois é bom


Dos três santos do mês, Santo Antônio e São João são os mais visados. Antônio por ser casamenteiro. João, por proporcionar festas que alegram adultos e crianças. De tão populares, avançam no mês de julho. Daí serem festas juninas ou julinas.


Brincadeirinhas


Ora é santo, ora são. As duas palavrinhas têm o mesmo significado. Querem dizer indivíduo que foi canonizado. São é forma apocopada. Preguiçosa, deixou a última sílaba no caminho como frei (freire), bel (belo), mui (muito).


A vez de cada um


Quando dar a vez a são e a santo? Use santo quando seguido de nome iniciado por vogal ou h (Santo Antônio, Santo Agostinho, Santo Hilário). Dê passagem ao são nos demais casos (São Bento, São Carlos, São Caetano). Exceção? No duro, no duro, só uma. É São Tirso. Há dois indecisos: São Tomás ou Santo Tomás, São Borja ou Santo Borja.


Pé de moleque


O que é presença obrigatória na festa junina? Muitas coisas. A mais importante: pé de moleque. Olho vivo! A reforma ortográfica cassou o hífen do docinho gostoso. Ele nem ligou. Livre e solto, continua reinando Brasil afora. 


Companhia


A reforma ortográfica eliminou o tracinho dos compostos em geral por três palavras que, soltas, nada têm a ver uma com as outras. Mas, juntas, formam um terceiro vocábulo. É o caso de pé de moleque. Pé designa parte do corpo. Moleque, menino sapeca. A preposição de os junta. O trio dá nome ao doce que deixa pra lá o pecado da gula.


Exemplos não faltam. Eis alguns: mão de obra, dia a dia, dor de cotovelo, folha de flandres, testa de ferro, leão de chácara, faz de conta, quarto e sala, mula sem cabeça, tomara que caia.


Sem vacilos


A reforma não atingiu todas as palavras assim compostas. As que designam bicho ou planta conservam o tracinho. Mantêm-se como dantes no quartel de Abrantes: cana-de-açúcar, ipê-do-cerrado, pimenta-do-reino, castanha-do-pará, joão-de-barro, bem-te-vi, bem-me-quer, porco-da-índia, canário-da-terra. E por aí vai.


Leitor pergunta


Eu havia pego ou havia pegado?
Nelsinho, lugar incerto


Modernamente ambas as formas estão corretas. Escolha.


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