A nota de R$ 200,00 e o lobo-guará

Qual a necessidade de criar a cédula? O Banco Central não explicou. Choveram palpites

Por: Dad Squarisi  -  02/08/20  -  12:40

Recado


“Exceção: substantivo da língua portuguesa que insiste em virar regra."
Carlos Hemel


Vem aí a nota de R$ 200,00. O anúncio pegou todo mundo de surpresa. Qual a necessidade de criar a cédula? O Banco Central não explicou. Choveram palpites. Entre eles, três sobressaíram. Um: lavagem de dinheiro. Dois: truque pra dizer que o brasileiro ganha "uma nota". O vencedor: homenagem ao lobo-guará, que vai figurar na novidade. Ele tem história.


Quando se anunciou a mudança da capital para o Planalto Central, a bicharada do cerrado se assanhou. O lobo-guará era o mais excitado. Queria se destacar dos outros animais. Qualidades tinha de sobra. Bastava realçá-las. Como? Pediu ajuda ao macaco. O símio escovou o pelo avermelhado e pediu a quatro miquinhos que escovassem as patas compridas que pareciam pernas de pau. O lobo-guará ficou um luxo. Virou o símbolo de Brasília.


Em bom português


Uma das funções do Banco Central é emitir moeda. O que é isso? Pôr dinheiro em circulação. Abastecer os bancos, as contas, os bolsos.


Moeda


Maiúscula ou minúscula? Depende. Real joga em dois times. Em um, dá nome ao Plano Real. Substantivo próprio, escreve-se com a inicial grandona. No outro, nomeia nosso rico dinheirinho. Aí, como as demais moedas, é vira-lata. Grafa-se com letra minúscula: O real nasceu com o Plano Real. Com a pandemia, o dólar se desvalorizou. Você prefere euro ou libra?


Esbanjador


O português tem um numeral esbanjador. É 14. Ele aceita duas grafias: catorze e quatorze.


Nada mais


Muitos ultrapassam limites. Pensam que cinquenta tem duas caras. A outra seria cincoenta. Enganam-se. Cinquenta é só cinquenta. Sem concorrência.


Cadê?


A Veja SP escreveu: “O mapeamento aponta que 1,32 milhões de pessoas foram infectadas pelo coronavírus”. Deu a informação, mas maltratou a língua. A concordância de milhão, bilhão, trilhão & cia. se faz com o número que vem antes da vírgula: 1,32 milhão, 1,58 bilhão, 2,1 trilhões, 10,35 milhões.


Quem dá mais?


Barras de ouro e diamantes que pertenciam a Sérgio Cabral foram leiloados. Renderam mais de R$ 4 milhões. O assunto virou notícia. E, claro, despertou curiosidade. Qual a origem de leilão? A palavra vem do povo que mais sabe negociar.


É ele, o árabe. Os primeiros leilões de que se tem notícia foram de escravos. Na Antiguidade, os exércitos vencedores exibiam como troféus os povos vencidos. Homens e mulheres derrotados seriam utilizados como mão de obra gratuita.


CNN e crase


“Polícia faz busca em casa ligada à suspeito no caso Madeleine.” O texto apareceu na telinha da CNN. Assinantes, em protesto, mudaram de canal. Com razão. O sinal da crase não tem vez antes de nome masculino: Polícia faz busca em casa ligada a suspeito no caso Madeleine. Faço compras a prazo. Criança a bordo. 


Bate-boca de Bolsonaro


“Bolsonaro adora um bate-boca”, disse Alexandre Garcia. Verdade? Fantasia? Seja lá o que for, manda a prudência ter o plural da duplinha na ponta da língua. Bate-boca joga no time de guarda-chuva, porta-retrato, arranha-céu e beija-flor. As palavras são formadas de verbo + substantivo. Nesse time, só o último elemento se flexiona: bate-bocas, guarda-chuvas, porta-retratos, arranha-céus, beija-flores. 


Leitor pergunta


Pessoa que tem o mesmo nome de outra é xará ou chará?
Célia Regina, Brasília (DF)


O dicionário diz que é xará. A palavra vem do tupi “se rera”, que significa meu nome.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter