O dilema da carroça

Déficit de atenção ou dificuldade de dizer não?

Por: Cida Coelho  -  27/10/20  -  21:48
Uma carroça com mais de um cavalo pode ser menos eficaz se eles não estiverem com o mesmo foco
Uma carroça com mais de um cavalo pode ser menos eficaz se eles não estiverem com o mesmo foco   Foto: Unsplash

Diante de um universo de opções que não para de crescer, é difícil decidir o que é melhor pra cada um de nós. Na dúvida, vamos aceitando o que der e vier, e quando menos esperamos, estamos operando no nosso modo “multitarefa”, fazendo várias coisas ao mesmo tempo, e chegando ao final do dia cansados e com a sensação de baixa produtividade.


E essa sensação não é por acaso. Na minha atividade profissional, observo com frequência o que costumo chamar de “O Dilema da Carroça”. O que você escolheria? Uma carroça com um só cavalo ou uma carroça com dez cavalos?  Sem pensar muito, claro que escolhemos a segunda opção: dez cavalos tem muito mais força de que um só cavalo.  Com uma carroça dessas, nossa produção aumentaria muito.  No entanto, costumo testemunhar exatamente o contrário.


Imagine que cada cavalo é um projeto seu.  À primeira vista, ter dez projetos deve ser melhor que ter um só. Contudo, se eles não estiverem integrados a um mesmo propósito, o resultado será frustrante. O pesquisador Greg McKeown, em seu livro “O essencialismo: a disciplinada busca por menos” ilustra de forma muito didática o padrão essencialista contra o não essencialista de viver. O essencialista não tem dúvidas em escolher apenas um projeto, buscando aplicar a máxima de “fazer menos, porém melhor”. Já o não essencialista rapidamente acumula dez (ou mais) projetos, pois considera que tudo é importante. E quando temos dez projetos desconectados um do outro, ou quando trabalhamos em uma equipe com dez pessoas que não estão sintonizadas ao mesmo propósito, o resultado é que a força dos dez cavalos é lançada em direções diferentes, e o resultado é que avançamos meio centímetro em cada projeto, apenas. Por outro lado, quando temos um propósito bem definido, a força de um só cavalo é capaz de nos levar a avançar muito mais rapidamente.


Convivo diariamente com pessoas nessa condição: tocando vários projetos, sem tempo suficiente para se dedicar da forma que gostariam a nenhum deles. Quando precisam apresentar publicamente esses projetos, sou procurada para auxilia-los na “oratória”, mas,  já me adiantam que seu tempo é curto. Ocorre que uma boa parte do sucesso de uma comunicação se dá na etapa do planejamento.  E para planejar, é preciso parar, pensar, refletir e organizar o conteúdo. Nessa hora, vem a célebre frase: Cida, não dá! Tenho déficit de atenção! Não consigo me concentrar, não consigo memorizar, por isso me atrapalho na hora de falar.


Será mesmo déficit de atenção?  Pode ser que sim, mas na maioria das vezes o que acontece, é que tem cavalo demais nessa carroça e a energia está sendo desperdiçada. Não é fácil identificar essa situação, e mais difícil ainda é tomar decisões a respeito do que abriremos mão. É um processo difícil, porem libertador.  E quando estivermos prontos pra enfrentar esse processo, saberemos, como propõe Greg McKeown, “identificar a desimportância de quase tudo, enxergar o poder invencível de fazer boas escolhas, descobrir os benefícios de estar indisponíveis, fazer menos, porém melhor e finalmente, perder para ganhar.”


Mas se você ainda acha que o seu caso é déficit de atenção mesmo, então seguem algumas dicas que serão benéficas de qualquer forma, e te ajudarão a não se atrapalhar na hora de falar:


1. Habitue-se a registrar TODOS os seus compromissos em uma agenda, inclusive a preparação de uma fala importante


2. Prepare-se usando PAPEL E CANETA. Isso garantirá sua concentração durante a preparação e a memorização do conteúdo


3. Pratique ATIVIDADE FISICA que estimule a ativação cardiovascular por pelo menos 30 minutos no dia em que tiver o compromisso de fala. Isso libera hormônios do bem estar e minimiza a inquietação e ajuda na concentração.


“Daqui a algumas centenas de anos, quando a historia do nosso tempo for escrita de um ponto de vista de longo prazo, é provável que, para os historiadores, o acontecimento mais transformador, não seja a tecnologia, a internet, nem o comércio eletrônico. Será a mudança sem precedentes  da condição humana. Pela primeira vez um numero substancial e crescente de pessoas tem opção. E a sociedade está totalmente despreparada para lidar com isso” Peter Drucker em A busca indisciplinada por mais


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