Fake news embalada em boa oratória não é fato

O que acontece quando o bom comunicador é, na realidade, uma 'propaganda enganosa'?

Por: Cida Coelho  -  07/03/20  -  00:42
Atualizado em 19/04/21 - 18:32
  Foto: Reprodução/Pixabay

Falar com convicção e ênfase no discurso é o sonho de consumo de muitos de nós, pois nos coloca sob o holofote da admiração e do respeito. Quando a maneira com que falamos retrata exatamente nosso preparo e conhecimento sobre um assunto, a conta fecha perfeitamente.


Competência profissional de mãos dadas com competência comunicativa. Mas, e quando o bom comunicador é, na realidade, uma “propaganda enganosa”? E quando a boa comunicação vem de alguém que, apesar de falar bem, não tem profundidade ou autoridade real sobre o assunto?


Isso acontece quando alguém, com um bom domínio da fala, estende automaticamente, essa sua competência para outras áreas, e realmente acredita ser um especialista em qualquer assunto. Essa auto-avaliação inflada faz parte de um perfil que compõe um fenômeno chamado “Dunning Krueger”. Esse conceito pode ser aplicado sempre que estamos diante de alguém que superestima suas próprias qualidades e ignora a própria incompetência.


Numa pesquisa rápida em sua memória, você deve lembrar-se de ao menos uma pessoa que se encaixe nesse perfil. O problema é que temos convivido cada vez mais com eles, mesmo sem saber que recebiam esse nome. Afinal, em tempos de universo virtual, o que não faltam são especialistas de plantão. Eles são peritos no domínio da palavra falada e da escrita, e levam uma multidão a acreditar em suas afirmações e, infelizmente, a tomarem decisões erradas.


Uma pesquisa recente, realizada pela Harvard Kennedy School, investigou a propagação de noticias falsas. Os estudiosos queriam compreender como ocorre o fenômeno das “Fake News”. Para isso eles compararam o caminho da informação das mídias tradicionais até o publico em geral. Fizeram o mesmo com as informações via mídias sociais. Eles focaram um tema bastante atual e preocupante: as campanhas contra a vacinação.


Os resultados são muito interessantes e você pode conferir em https://misinforeview.hks.harvard.edu/article/users-of-social-media-more-likely-to-be-misinformed-about-vaccines/. Mas, na minha opinião, a conclusão mais interessante é que as pessoas que demonstraram ter menos conhecimento ou um conhecimento equivocado sobre um assunto, obtiveram tais informações nas redes sociais Contrariamente, os indivíduos com informações mais corretas e precisas, as tinham obtido pelas mídias tradicionais.


Não é minha intenção avaliar ou julgar as redes sociais ou as mídias tradicionais. Mas, esses resultados nos alertam para o fato que nas mídias tradicionais, geralmente conseguimos obter informações mais corretas e precisas. Vou te lançar um desafio: da próxima vez que você estiver diante de alguém que tem o domínio da oratória, não conclua imediatamente que essa pessoa é uma autoridade no assunto e que podemos confiar nela.


Mantenha o espírito crítico e reflexivo. Avalie o que está por trás das belas palavras. Se após essa analise você descobrir que a comunicação e a competência no assunto estão juntas na mesma pessoa, aproveite. Você está com sorte. Mas, se após essa análise a conta não fechar, fuja. A chance de você ser induzido a erro e tomar decisões equivocadas é grande.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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