Retrocesso na Educação: Campus da USP em Santos transfere graduação para São Paulo

Depois de oito anos de funcionamento, a região metropolitana da Baixada Santista vai perder, a partir de 2021, o curso de engenharia de Petróleo

Por: Caio França  -  09/09/20  -  09:44
Atualizado em 09/09/20 - 09:50
Unidade em Santos funciona em prédio histórico localizado na Vila Mathias
Unidade em Santos funciona em prédio histórico localizado na Vila Mathias   Foto: Divulgação/USP

Depois de oito anos de funcionamento, a região metropolitana da Baixada Santista vai perder, a partir de 2021, o curso de engenharia de Petróleo que funcionava desde 2012 na antiga Escola Estadual Cesário Bastos, prédio histórico localizado na Vila Mathias, em Santos. Na ocasião, o prédio foi cedido pelo governo estadual em sua totalidade à Universidade de São Paulo (USP).


A instalação da USP na Baixada Santista foi uma conquista sem precedentes, uma luta histórica e a realização de um antigo sonho da região em abrigar um campus de uma universidade pública renomada, que viria compor com o nosso polo universitário regional, visando a qualificação da mão de obra na área de Petróleo e Gás.


Recordo-me que havia a intenção de construção de um novo prédio que seria erguido com quatro andares e 15 mil m2 de área para abrigar as novas instalações do curso. A edificação ampliaria a demanda, possibilitando o atendimento dos atuais 50 para 250 alunos de graduação do curso de Engenharia de Petróleo da Poli, com um custo estimado em R$ 68 milhões.


No entanto, diante de um cenário prospectivo intenso não concretizado no que compete ao crescimento das atividades petrolíferas da Bacia de Santos, julgo coerente o recuo da expansão inicialmente prevista, o que não significa dizer que o Estado tenha o direito de nos fazer retroceder em uma conquista histórica para a região.


Sou absolutamente contra a transferência da graduação em Petróleo e Gás do campus da USP em Santos para São Paulo no próximo ano. Em sua justificativa, a universidade alega que o espaço disponível no prédio histórico do Cesário Bastos será dedicado aos laboratórios de pesquisa e ao curso de pós-graduação, acrescentando que o quinto ano do curso de graduação no módulo de Exploração e Produção de Petróleo permanece na Cidade.


Espero que não se trate do início de um processo de esvaziamento da USP em Santos. Seria uma grande perda para os nossos jovens universitários que ainda continuam subindo e descendo a serra em busca do sonho de cursar uma universidade pública. Penso que nesta virada de década, deveríamos estar em um outro nível de discussão com a possibilidade de ampliação da oferta de novos cursos da USP na região, e não o contrário.


Em recente fórum virtual do Região em Pauta, promovido pelo Grupo Tribuna sobre o tema, especialistas foram unânimes em dizer que o setor de Petroléo e Gás continua sendo promissor, e que os alunos não devem se desanimar, justificando a vocação tecnológica da região, especialmente agora com a entrega da Fundação Parque Tecnológico de Santos.


Neste momento de pandemia, as perspectivas dos jovens foram drasticamente afetadas. Sonhos tiveram de ser adiados. O futuro é incerto e o que fizermos agora ou deixarmos de fazer terá impacto direto nos rumos da sociedade pelas próximas décadas. Portanto, acredito que a animação e a motivação principal devem partir dos governantes por meio da ampliação de oportunidades e desenvolvimento de políticas públicas que possam acolher este jovem.


Estarei protocolando hoje mesmo um requerimento de informações junto à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico questionando o critério que levou o governo estadual a promover essa tomada de decisão totalmente desconectada da nossa realidade regional.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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