No artigo da semana passada falamos sobre ações bem sucedidas adotadas pela Coréia do Sul e Alemanha antes mesmo da chegada do vírus nestes países. Uma delas foi a testagem em massa da população. Ainda em que em proporções menores, no último sábado (18), o Condesb (Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista) que integra os prefeitos dos nove municípios, deliberou pela aplicação de um teste de metodologia internacional, com a participação de 10 mil pessoas, que serão selecionadas de acordo com critérios técnicos de amostragem para identificar o nível de propagação do novo Coronavírus na região.
A iniciativa foi inspirada no exemplo de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas (Upfel) no Rio Grande do Sul e será feita em parceria com universidades locais. O estudo epidemiológico, denominado soroprevalência, deve apresentar os primeiros resultados ao final desta terceira quarentena, no dia 10 de maio, e ajudará a amparar as decisões do colegiado e contribuir nas definições metropolitanas, essencialmente no que compete às políticas de isolamento e distanciamento social, só que desta vez, com base científica.
O ideal seria que toda a população pudesse ser submetida ao teste, no entanto, enquanto isto não é possível, a aplicação dos testes rápidos serão realizados por meio de amostragem que detectará a presença de anticorpos IgM (de infecção mais recente), como de IgG (de infecção mais antiga) a partir de amostras de sangue coletadas. Com os resultados já será possível ter uma proporção do contágio e do nível de disseminação nas nove cidades.
A população será notificada do início dos testes a qualquer momento até porque os profissionais que farão as coletas irão até a residência das pessoas sorteadas que farão parte do estudo. Por meio da aplicação dos testes será avaliada a propagação da contaminação tendo em vista que a doença pode apresentar quadro assintomático, de sintomas leves e semelhantes ao um quadro de uma gripe ou resfriado, além de diagnosticar pessoas contaminadas, inclusive as que já possuem anticorpos, ou seja, já tiveram contato com o vírus e estão imunes.
Os dados coletados podem colaborar na flexibilização da reabertura do comércio regional, o acesso às praias e retomada, ainda que de forma parcial, da nossa rotina de maneira em geral. Por outro lado, temos que estar preparados para uma situação em que os dados apontem para a necessidade de manutenção do isolamento social, caso os números sejam muito desfavoráveis.
É importante que a população esteja consciente de que hoje as informações a respeito da doença são estimadas em dados subnotificados no Brasil, ou seja, os dados não são fiéis à realidade da pandemia instalada no país, o que dificulta inclusive a previsão e visualização da demanda de recursos hospitalares necessários.
No Rio Grande do Sul, onde nasceu a iniciativa do estudo, a análise estatística apontou que há pelo menos sete vezes mais casos no Estado do que os confirmados oficialmente pelas autoridades. Dos 904 casos reportados até esta segunda-feira (20) pela Secretaria Estadual de Saúde, ao menos 6.328 gaúchos já haviam sido contaminados pelo vírus, o que representa um sexto dos mais de 40.000 casos confirmados no país pelo Ministério da Saúde, cujos dados também não representam o número real.
Dessa forma, a testagem é importante para tirar os gestores públicos deste estado míope e dar à população respostas mais esclarecedoras e efetivas sobre a dimensão do problema que estamos enfrentando. Durante a reunião, os nove municípios da Baixada Santista também deliberaram solicitar ao governo estadual a distribuição dos R$ 9 milhões do Fundo Metropolitano de Desenvolvimento, de forma proporcional aos municípios, para que sejam investidos nas ações de combate à Covid-19.