População da Baixada Santista terá testagem amostral para o novo Coronavírus

O estudo epidemiológico deve ajudar a amparar as decisões do Condesb e contribuir nas definições metropolitanas

Por: Caio França  -  22/04/20  -  10:00
Atualizado em 22/04/20 - 10:31
Exame feito em Santos será idêntico ao do Instituto Adolfo Lutz, mas resultado sairá mais rápido
Exame feito em Santos será idêntico ao do Instituto Adolfo Lutz, mas resultado sairá mais rápido   Foto: Divulgação/Secretaria Estadual de Saúde

No artigo da semana passada falamos sobre ações bem sucedidas adotadas pela Coréia do Sul e Alemanha antes mesmo da chegada do vírus nestes países. Uma delas foi a testagem em massa da população. Ainda em que em proporções menores, no último sábado (18), o Condesb (Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista) que integra os prefeitos dos nove municípios, deliberou pela aplicação de um teste de metodologia internacional, com a participação de 10 mil pessoas, que serão selecionadas de acordo com critérios técnicos de amostragem para identificar o nível de propagação do novo Coronavírus na região.


A iniciativa foi inspirada no exemplo de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas (Upfel) no Rio Grande do Sul e será feita em parceria com universidades locais. O estudo epidemiológico, denominado soroprevalência, deve apresentar os primeiros resultados ao final desta terceira quarentena, no dia 10 de maio, e ajudará a amparar as decisões do colegiado e contribuir nas definições metropolitanas, essencialmente no que compete às políticas de isolamento e distanciamento social, só que desta vez, com base científica.


O ideal seria que toda a população pudesse ser submetida ao teste, no entanto, enquanto isto não é possível, a aplicação dos testes rápidos serão realizados por meio de amostragem que detectará a presença de anticorpos IgM (de infecção mais recente), como de IgG (de infecção mais antiga) a partir de amostras de sangue coletadas. Com os resultados já será possível ter uma proporção do contágio e do nível de disseminação nas nove cidades.


A população será notificada do início dos testes a qualquer momento até porque os profissionais que farão as coletas irão até a residência das pessoas sorteadas que farão parte do estudo. Por meio da aplicação dos testes será avaliada a propagação da contaminação tendo em vista que a doença pode apresentar quadro assintomático, de sintomas leves e semelhantes ao um quadro de uma gripe ou resfriado, além de diagnosticar pessoas contaminadas, inclusive as que já possuem anticorpos, ou seja, já tiveram contato com o vírus e estão imunes.


Os dados coletados podem colaborar na flexibilização da reabertura do comércio regional, o acesso às praias e retomada, ainda que de forma parcial, da nossa rotina de maneira em geral. Por outro lado, temos que estar preparados para uma situação em que os dados apontem para a necessidade de manutenção do isolamento social, caso os números sejam muito desfavoráveis. 


É importante que a população esteja consciente de que hoje as informações a respeito da doença são estimadas em dados subnotificados no Brasil, ou seja, os dados não são fiéis à realidade da pandemia instalada no país, o que dificulta inclusive a previsão e visualização da demanda de recursos hospitalares necessários. 


No Rio Grande do Sul, onde nasceu a iniciativa do estudo, a análise estatística apontou que há pelo menos sete vezes mais casos no Estado do que os confirmados oficialmente pelas autoridades. Dos 904 casos reportados até esta segunda-feira (20) pela Secretaria Estadual de Saúde, ao menos 6.328 gaúchos já haviam sido contaminados pelo vírus, o que representa um sexto dos mais de 40.000 casos confirmados no país pelo Ministério da Saúde, cujos dados também não representam o número real.


Dessa forma, a testagem é importante para tirar os gestores públicos deste estado míope e dar à população respostas mais esclarecedoras e efetivas sobre a dimensão do problema que estamos enfrentando. Durante a reunião, os nove municípios da Baixada Santista também deliberaram solicitar ao governo estadual a distribuição dos R$ 9 milhões do Fundo Metropolitano de Desenvolvimento, de forma proporcional aos municípios, para que sejam investidos nas ações de combate à Covid-19.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter