O recado das urnas

No último domingo (30), quando eleitores de 57 cidades voltaram às urnas para definir o futuro de suas cidades, dez municípios brasileiros apresentaram mais abstenções que votos para o prefeito eleito

Por: Caio França  -  02/12/20  -  10:21
TSE garante a manutenção do calendário eleitoral, apesar de pedidos de adiamento
TSE garante a manutenção do calendário eleitoral, apesar de pedidos de adiamento   Foto: Divulgação

Com a passagem do segundo turno das eleições, é importante que façamos uma análise dos cenários e das respostas que as urnas nos deixam sobre os mais diversos ângulos e perspectivas dos eleitores. O índice de abstenção, que já vinha crescendo nos últimos pleitos, atingiu recordes em razão da pandemia do novo Coronavírus em todo o país, o que já era esperado.


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O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, admitiu que a expectativa de eleitores ausentes era ainda maior que os 27,14% registrados no primeiro turno, e os 29,43% no segundo turno. No último domingo (30), quando eleitores de 57 cidades voltaram às urnas para definir o futuro de suas cidades, dez municípios brasileiros apresentaram mais abstenções que votos para o prefeito eleito, quatro deles no estado de São Paulo. São eles: Campinas, Ribeirão Preto, Piracicaba e Franca.


Outro fenômeno apresentado por esta eleição, reflexo do não comparecimento do povo às urnas em muitas cidades e capitais, foi a superação da soma do número de abstenções, brancos e nulos, em relação ao número de votos recebidos por muitos prefeitos eleitos e reeleitos. 


Na Baixada Santista, o índice de não comparecimento às urnas superou a média nacional, com um absenteísmo de 29,15% ante 23,14% da média brasileira. Seguindo a tendência, no histórico segundo turno das eleições, realizado pela primeira vez nas cidades de São Vicente e Praia Grande, as taxas foram de 31,91% e 32,67%, respectivamente.


Não há dúvidas de que a pandemia exerceu forte influência neste contexto eleitoral. O cidadão que durante todo o ano foi orientado a ficar em casa, a se preservar e proteger o próximo, não se sentiu claramente à vontade para exercer o direito e o dever do voto, em especial os que compõem o grupo de risco da Covid-19. Nas cidades em que a incidência da população idosa é grande, como em Santos, o índice de abstenção foi ainda maior.


Por outro lado, é importante também que se reflita sobre os recados deixados pelas urnas no que compete especialmente ao cansaço dos eleitores face à briga ideológica evidenciada pela polarização da extrema direita e extrema esquerda; a necessidade de renovação dos quadros políticos; a abertura de espaços nos partidos para a juventude, para as mulheres, para os negros, para o público LGBTI+, para as pessoas com deficiência e todos aqueles que se sentem discriminados e excluídos da sociedade.


O crescimento de mandatos coletivos é outra variável que deve ser encarada como um avanço importante na política da atualidade. O registro de candidaturas coletivas para as câmaras municipais brasileiras saltou de 13, em 2016, para 257, em 2020. É uma tendência inovadora. Uma experiência de construção coletiva, dinâmica e democrática.


Nos últimos anos também têm crescido de maneira expressiva os movimentos de renovação política, representados por iniciativas como Acredito, Agora!, RenovaBr, Ocupa Política, Raps, Bancada Ativista, Movimento Brasil Livre (MBL), Muitas, Livres, com a finalidade de formar novas lideranças visando o preenchimento de vagas no Legislativo e Executivo. Os movimentos foram criados com o propósito de formar novos e jovens gestores públicos, buscando a ampliação da pauta dos partidos políticos, ao passo que tentam se manter distantes do jeito de governar da velha política.


Uma sociedade justa e igualitária é aquela que se vê representada em todas as suas camadas, com toda a sua diversidade, pluralidade e por meio de suas lutas sociais. A política é um importante instrumento para promover as mudanças que tanto almejamos. Sigamos em frente com coragem e disposição para fazer a diferença na vida das pessoas que mais precisam e que dependem exclusivamente das políticas públicas. Avante!


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