A experiência de mobilidade em Barcelona

Empresa Transportes Metropolitanos de Barcelona (TMB), na Espanha, é uma referência para os transportes e mobilidade dos cidadãos na Europa e em todo o mundo

Por: Caio França  -  15/05/19  -  12:12
  Foto: Luigi Bongiovanni/Arquivo

Elétricos, conectados, autônomos e compartilhados. Esse é o futuro, não tão distante, dos veículos na visão do engenheiro Pau Noy Serrano, que na última semana esteve na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a convite da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a qual presido, para compartilhar a sua experiência como diretor-adjunto dos Transportes Metropolitanos de Barcelona (TMB), na Espanha, uma referência para os transportes e a mobilidade dos cidadãos na Europa e em todo o mundo.


A empresa de serviços públicos (TMB) é a principal operadora de transporte público na Catalunha e oferece duas redes de transporte regulares (superfície de ônibus e metrô), e vários serviços de transporte de lazer. A Área Metropolitana de Barcelona abrange 36 municípios, 636 km², uma população de 3,2 milhões de pessoas e uma densidade demográfica de 5 mil habitantes por quilômetro quadrado. Somente Barcelona possui 100 km² de área, população de 1,6 milhão e densidade extremamente alta, de 16 mil habitantes por quilômetro quadrado.


A mobilidade do contínuo urbano de Barcelona, composto por 12 municípios, é 70% sustentável, já que 36% dos deslocamentos são realizados a pé e por bicicleta, e 34% por meio de transporte público (ônibus e metrô). O sistema de tarifas é integrado. Barcelona possui uma das mais densas redes de metrô da Europa, com 124 km de extensão (11 linhas de metrô e 156 estações) e 850 km de rede ônibus cobrindo todos os cantos da cidade.


Em 2017, a TMB ficou com 60% da fatia do transporte público, e os demais 40% ficaram com outros operadores de ônibus, trem, metrô, veículo leve sobre trilho, entre outros modais. Cerca de 80% do valor das passagens é subsidiado pelo governo. Entre as ações sustentáveis desenvolvidas pela empresa, destacam-se: 100% de energia elétrica renovável, aposta em nova frota de ônibus elétrico, eficiência energética do metrô com 100% de recuperação na frenagem, automatização de 25% do metrô e forte compromisso com as práticas ambientais.


No que compete aos principais desafios que a empresa de transporte estabelece como meta para o futuro, o representante elenca quatro prioridades. A primeira delas é o combate à poluição, por meio do investimento maciço e aprimoramento do transporte público com aumento na capacidade do metrô em 20%; aumento na velocidade do ônibus para aumentar a oferta; ampliação do efeito de rede para atrair novos usuários e programas de fidelidade (passe mensal de transporte).


Em segundo lugar, ele cita o enfrentamento de problemas ocasionados pelas mudanças climáticas. Uma recente lei catalã estabelece que a Catalunha deve ser neutra em carbono até 2050, e reduzir suas emissões em 40% até 2030, o que significa dizer que a capacidade do transporte público deverá ser duplicada até 2030, o sistema deve tornar-se eletrificado até 2040 e 100% da energia deve vir de fontes renováveis.


Não menos desafiadora, a terceira meta diz respeito à absorção do trânsito privado de 806 mil viagens internas diárias de carro, gerando um aumento de 38% na demanda por transporte público. Serrano explica que é uma meta viável citando a lei de Boyle-Bernouilli, comparando o trânsito a um gás que ocupa todo o espaço que lhe é concedido, e o transporte público, um líquido, que circula ordenadamente pelos canos que é a rede.


De acordo com a teoria, para transferir pessoas do carro para o transporte público, uma mudança de fase deve ser verificada, e isso é obtido pela compressão do gás. Em outras palavras, reduzindo o seu espaço. E o último desafio listado compete à integração de toda a rede do transporte público, quando ela se tornará verdadeiramente uma rede.


Dessa forma, é tendência mundial priorizar a utilização do transporte público e reduzir o espaço para veículos automotores. E isso passa por uma mudança cultural. Além disso, para que a população se aproprie dos transportes públicos, é necessário investir na melhoria do serviço oferecido.


Está comprovada a influência que a dificuldade de deslocamento e acesso impõe à nossa qualidade de vida. Portanto, tenho cobrado o Governo do Estado em relação aos ônibus intermunicipais, que muitas vezes apresentam condições precárias ao usuário, e a diminuição da oferta em alguns trechos mais afastados, como no Vale do Ribeira.


Também defendo a extensão do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) para toda a Baixada Santista, para que possamos garantir um sistema mais rápido, com qualidade e menos poluente. Estamos aguardando o início da construção da ponte entre Santos e Guarujá, que visa proporcionar fácil locomoção e integração entre os municípios vizinhos, com início das obras prometido para o segundo semestre deste ano. Projeto este apresentado pelo ex-governador Márcio França, com o mesmo traçado mantido pela atual gestão.


De acordo com o urbanista Pau Noy, as cidades precisam se adequar à realidade dos novos tempos e encarar a mobilidade como uma política pública essencial para as pessoas, que demanda planejamento e investimento. Assim, por mais que a mobilidade no Brasil esteja um pouco distante dos avanços conquistados na Espanha, entendo que parte de nós também abandonar velhos hábitos e promover novos comportamentos e valores, diariamente, na substituição do carro pela caminhada, pela bicicleta, pela patinete, pelo VLT, pela carona, pelo ônibus, pelo metrô. Então, que tal iniciarmos essa mudança hoje, com a adoção de práticas mais sustentáveis? O planeta agradece. E a sua saúde também.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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