Comecemos do princípio, do nascimento da criança: devido à sua evolução neuromotora, há uma característica essencial em seu desenvolvimento, ou seja, ao nascer o bebê é totalmente imaturo em nível motor. Esse estado de imaturação neuromotora é responsável pelo fato de o recém-nascido estar maduro tonicamente para receber estímulos e absolutamente imaturo, do ponto de vista motor, para organizar e ordenar suas respostas. Em outras palavras, o bebê está maduro no tônus (via sensitiva) e imaturo no motor (via motora). Portanto necessariamente o outro que outorga um sentido possível ao sensório-motor.
E necessário esclarecer que a estrutura sensório-motora não é inata; implica desde o início na intervenção cênica do campo do outro como horizonte humanizante da criança.
Devemos levar em conta que para o bebê não há diferença entre o sensório e o motor, ele não consegue discriminar e diferenciar o estímulo sensorial da resposta motora.
Se o gesto do bebê é um movimento e se produz, primeiramente antes da demanda do outro, isso já implica uma diferença entre sensório (estímulo) e o motor (resposta) .
A meu ver, essa diferença e discriminação tornam-se efetiva por intermédio do campo do outro e implica uma construção tanto para a criança como para o outro materno. Como vemos aí está a importância do investimento da mãe no corpo em movimento da criança.
Nesse contexto, a mãe, diante da relação reflexa do filho, acaricia-o libidinizando-o, olha para ele cativando-o, segura- o seus movimentos como gestos.
Refletindo com o leitor: nessa montagem o prazer sensório-motor está na cena que a criança vive?
Penso que o prazer sensório-motor está em cena, será ali nessa montagem, que o desenvolvimento neuromotor se ligará e irá amarrar o campo de estruturação.
Quando digo pensar, estou me referindo à diferença que existe no ato de estimular um bebê com atenção, e principalmente afeto, realizando esse processo com sensibilidade.
Caro leitor, partindo desta concepção da estrutura sensório-motora da criança que acabo de propor, abre-se novos interrogantes a respeito do corpo e da colocação em cena do sensório- motor na infância.