Como o adulto deve ver o ato de brincar da criança

Definição de brincar parece difícil de ser concebida pelo mundo dos adultos

Por: Ângela Cotrofe  -  14/08/19  -  20:02
  Foto: Reprodução

Sabemos que o brincar desenvolve o prazer, que as formas exteriores do brincar são relativamente específicas de cada criança, que a duração e a diversidade do brinquedo em cada uma estão relacionadas com sua posição filogenética. O brincar não tem resultado biológico imediato.


As qualidades lúdicas podem estar presentes em situações e atividades humanas superiores, quando focalizando o jogo como fenômeno cultural, em sua investigação histórica.


Para Winnocott, pediatra psicanalista inglês, é no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fluem sua liberdade de criação. A brincadeira é analógica, uma coisa que pode ser outra, que trabalha na forma de substituição de significado, que se baseia em um sistema próprio de representar a imaginação.


Vygostsky, psicólogo russo, acrescenta que, para resolver esta tensão, a criança envolve-se em um mundo imaginário e de ilusão onde grande parte dos desejos não realizados podem se concretizar. Este mundo que ele chama de brinquedo. Ao fazer a distinção do brincar da criança de outras atividades, conclui que no brinquedo é criada uma situação imaginária.


Para Piaget, biólogo e psicólogo suíço, os processos adaptativos de acomodação e assimilação são meios pelos quais a realidade é transformada em conhecimento.


No brincar a assimilação impera e a criança incorpora o mundo à sua maneira sem nenhum compromisso com a realidade, tornando esta atividade algo agradável, ativo e integrado ao desenvolvimento intelectual.


Para Wallon, a criança começa a distinguir sua pessoa à medida que vai experimentando uma série de exercícios e jogos, onde age e recebe a ação do outro.


Estas distinções ajudam a criança perceber-se diferenciada da outra pessoa, além de introduzi-la em novas situações do mundo exterior. Estes jogos são chamados de alternância onde a criança procura viver dois papéis: o de vítima e o de autor; descobrindo e redescobrindo a si própria e ao outro.


Assim se constrói a consciência da criança.


O mais interessante é que o desenvolvimento da inteligência prática e o contínuo exercício dos jogos simbólicos podem auxiliar a criança a obter grandes progressos no plano das representações e, consequentemente, nos planos da linguagem e atividades motoras.


Gostaria de validar para o leitor que a criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece desde cedo, com a experiência sócio- histórica dos adultos e do mundo criado por eles.


Dessa maneira, a brincadeira é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um meio de assimilai e recriar a experiência sociocultural dos adultos.


Assim o atributo essencial do brinquedo é que uma regra torna-se um desejo. O brinquedo é assim, o reino da espontaneidade e liberdade, onde satisfazer as regras é uma fonte de prazer.


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