Violência contra mulher, 'uma pandemia' agravada pela Covid-19

Estado de São Paulo teve aumento de 44,9% dos atendimentos da Polícia Militar a mulheres vítimas de violência em 2020

Por: Alexandre Catena Volpe  -  08/03/21  -  18:07
Foram registradas 105.821 denúncias no Ligue 180 e no Disque 100 em 2020
Foram registradas 105.821 denúncias no Ligue 180 e no Disque 100 em 2020   Foto: Reprodução/Pixabay

Nesta segunda-feira (08/03) é comemorado o Dia Internacional da Mulher, mas não há motivo de comemoração com estes dados e a falta de investimentos neste problema crônico.


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No contexto da pandemia do Covid-19, o estado de São Paulo teve um aumento de 44,9% dos atendimentos da Polícia Militar a mulheres vítimas de violência em 2020, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).


No Brasil, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foram registradas 105.821 denúncias nas plataformas do Ligue 180 e do Disque 100.


É fato que o problema foi exacerbado pelo impacto global na saúde, social e econômico do coronavírus e as medidas tomadas para enfrentá-lo.


Desde o início, vimos um aumento das formas de violência contra as mulheres. O desemprego prevalece de forma particular entre as mulheres, que constituem a maior força de trabalho nos setores do comércio e dos serviços, muitas vezes na economia informal, e os primeiros setores a fechar as portas devido às medidas de restrição. O fato de a vítima estar junto ao agressor, em confinamento, isso por si só já gera uma dificuldade dela sair para denunciar.


Tudo isso forma um quadro de violência e desigualdade que ameaça a igualdade de gênero e põe em risco o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável.


A Covid-19 tornou ainda mais evidente as fragilidades estruturais dos nossos sistemas para prevenir e combater todas as formas de violência contra as mulheres, mas também é um apelo pelas ações eficazes por parte dos governos e da sociedade. É um esforço coletivo para acabar com a pandemia que já dura muito mais que a outra. Não podemos continuar a viver em sociedades que endossam a violência contra as mulheres.


É hora de construir a cultura de igualdade de gênero, porque sem igualdade substantiva não alcançaremos os objetivos.


No Brasil, a principal medida adotada pelo Governo Federal para enfrentar o problema foi a divulgação dos canais de atendimento. Em 2020, as denúncias passaram a ser feitas também via aplicativo, WhatsApp e Telegram.


O perfil médio das mulheres que sofrem violência, de acordo com os registros dos canais de denúncias, ainda aponta que elas possuem principalmente ensino médio completo e com renda até um salário mínimo. Já em relação aos suspeitos, o perfil mais comum é de homens brancos com idade entre 35 e 39 anos.


Levantamento feito pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) mostra que a pasta comandada por Damares Alves só pagou 24,6% do total de R$ 120,8 milhões autorizados pelo congresso para este fim em 2020. No ano em que a pandemia contribuiu para aumentar os casos de violência contra a mulher, a execução financeira para a área somou apenas R$ 35,5 milhões.


Onde vamos parar? Precisamos de um combate efetivo da violência contra mulher.


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