Estresse mental e sua influência nas doenças cardiovasculares

Prof. Dr. Carlos Alberto Cyrillo Sellera, chefe do serviço de cardiologia da Santa Casa de Santos, discute o assunto

Por: Alexandre Catena Volpe  -  03/05/20  -  22:58
Atualizado em 19/04/21 - 17:57
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O estresse mental é um dos maiores problemas dos dias atuais. Em uma situação de estresse, o organismo humano redistribui suas fontes de energia, antecipando uma agressão iminente. Esse mecanismo de adaptação é vantajoso se realmente houver perigo iminente. Entretanto, se esse estado persistir por muito tempo, o dano será inevitável. A cultura popular há muito associa o estresse com o desenvolvimento de doenças e inúmeros estudos epidemiológicos demonstram uma ligação entre o estresse mental e o aparecimento de muitas doenças, desde simples infecções virais, até úlceras gástricas e neoplasias. O sistema cardiovascular possui uma significativa participação na adaptação ao estresse, sofrendo por isso as consequências da sua intensificação. A suspeita de que estados de estresse mental sejam fatores de risco para maior morbimortalidade por doença cardiovascular é antiga. Para discutir o assunto, a coluna traz o renomado cardiologista e chefe do serviço de cardiologia da Santa Casa de Santos, Prof. Dr. Carlos Alberto Cyrillo Sellera.


1-Diariamente é comum relatarmos que estamos estressados. Quais sãos os principais sinais do estresse mental no ser humano? É possível identificar um paciente estressado em uma consulta médica?


R.: Grato pelo convite, Alexandre. Como você discorreu acima, o estresse é inerente à espécie humana, no entanto, mais presente no mundo moderno. O paciente apresenta-se ansioso, agitado e com múltiplas queixas. Geralmente associa seus sintomas a alguma doença cardiovascular. Sobre os sintoma falaremos mais adiante.


2-Sabemos que nem sempre o stress é prejudicial. Desde o tempo das cavernas, ele melhora o desempenho do organismo para que a pessoa possa reagir a um agressor ou fugir. Também turbina a performance de alguns profissionais que produzem muito melhor quando se sentem pressionados por prazos, imprevistos, desafios. Quando o estresse vira um vilão?


R.: Como costumo dizer, o que separa o remédio de do veneno é a dose. O mesmo sucede com o estresse. No nosso ritmo de trabalho diário, temos sempre um nível de estresse que nos impulsiona para realizarmos nossas funções. No entanto, em situações de maior pressão, esse nível de estresse aumenta, e isso sim pode ser prejudicial. O difícil é percebermos a diferença entre esses momentos, para que aprendamos a lidar com a situação.


3-Existem tipos diferentes de estresse?


R.: Existem diferentes intensidades e causas diversas de estresse. Existem também diferentes tipos de pessoas que respondem de maneiras diferentes ao estresse. Veja o exemplo de um atleta olímpico que treinou durante anos para aquele momento de tentar bater um recorde. Se ele não tiver um controle sobre seu estresse, tudo irá por agua abaixo. Diferentes tipos de pessoas, em diferentes situações, reagem de forma diferente. Qualquer individuo, atleta diante de uma competição mesmo sendo amador, jovem em véspera de prova, todos eles tem seu nível de estresse.


Me permito um exemplo: os astronautas da missão Apolo, que levaria o homem à Lua, passavam por um treinamento físico e mental que era para poucos. Seus parâmetros cardiovasculares todos normais durante essa fase. Porém, quando estavam subindo a rampa em direção ao modulo lunar, no momento do lançamento, a pressão arterial e a frequência cardíaca estavam elevadíssimos.


4-Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, mais de 300 mil pessoas morrem por ano de infarto no Brasil. Qual o papel do estresse como causa ou fator de risco no infarto?


R.: Sim, é verdade. A cada 2 minutos morre 1 brasileiro de doença cardiovascular. O estresse é um fator de risco dos mais sérios para o evento cardiocerebrovasbular. Em condições normais, nos encontramos em estado de equilíbrio, chamado HOMEOSTASE; o estresse desencadeia intensa descarga adrenérgica, marcada pela ativação do eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal. Isso desencadeia respostas cardiovasculares resultando principalmente em um aumento da freqüência cardíaca, da contratilidade miocárdica, elevação do débito cardíaco e pressão arterial. Aqueles que já tenham por exemplo, doença coronária, hipertensão arterial ou alguma doença cardíaca pre-existente, os efeitos do estresse serão mais graves.


5-O estresse é um dos fatores para doenças cardiovasculares. Quais fatores também são importantes destacar?


R.: Além do estresse, existem importantes Fatores de isco que irão aumentar o risco de eventos cardíacos: Sedentarismo, tabagismo, obesidade, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia (elevação das taxas de colesterol e/ou triglicérides no sangue), etc.


6-Na crise do estresse os sinais e sintomas podem ser confundidos com o do infarto. Como diferenciar uma síndrome do pânico de um evento cardiovascular e quais são os sinais e sintomas clássicos?


R.: Os sinais e sintomas clássicos referidos pelo paciente, irão depender da intensidade do estresse. Angustia, ansiedade, boca seca, palpitação, palidez, suor frio, as vezes sensação de morte iminente, podendo ser confundido com doenças cardiovasculares e Síndrome do Pânico. Para fazer o diagnóstico diferencial e afastar suspeita de uma síndrome coronária aguda, por exemplo, realiza-se uma historia clinica bem conduzida, exame físico detalhado, realização de exames (eletrocardiograma, exame de sangue especifico, entre outros).


7-Qual o papel do estresse em doenças como hipertensão arterial e diabetes?


R.: Como já falamos, há elevação dos níveis de pressão arterial podendo causar crise hipertensiva, aumento dos batimentos cardíacos (palpitação), vasoconstrição arterial que é o estreitamento das artérias. Estas alterações podem predispor a arritmia cardíaca, acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio.


8-Quais são as dicas para aliviar o estresse e o papel do exercício físico na prevenção de doenças cardiovasculares?


R.: Hábitos alimentares corretos ajudam a fortalecer o sistema imunológico e, consequentemente, tornam uma pessoa menos vulnerável ao estresse e seus efeitos. Dormir bem é outra maneira de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar, diminuindo o cansaço e aumentando a disposição para trabalhar. ajuda uma pessoa a ser mais forte em frente ao estresse e melhora a memória e raciocínio;


O bem-estar e a qualidade de vida também dependem do exercício físico. Eles melhoram a disposição de um indivíduo e o tornam mais forte para enfrentar situações de estresse. O ideal é a prática de 30 minutos de qualquer atividade ao menos três vezes na semana; meditação, atividades lúdicas, musica, jardinagem, filmes, leitura, ou seja, atividades que tragam prazer ao individuo.


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