Coronavírus: emergência de saúde pública de interesse internacional

Diante da relevância do assunto, conversei com a conceituada pneumologista Dra. Andrea Contenças.

Por: Alexandre Catena Volpe  -  03/02/20  -  18:10
Atualizado em 19/04/21 - 18:04
 Estudo foi feito em locais que abrigaram pacientes com covid-19
Estudo foi feito em locais que abrigaram pacientes com covid-19   Foto: NOEL CELIS/AFP

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou na última quinta-feira (30) que os casos do novo coronavírus 2019 n-CoV sãouma emergência de saúde pública de interesse internacional. São milhares de infecções na China e em 18 países. Com isso, uma ação coordenada de combate à doença deverá ser traçada entre diferentes autoridades e governos.


Diante da relevância do assunto, conversei com a conceituada pneumologista Dra. Andrea Contenças.


Dra. Andrea Conteças - Atualmente, estamos recebendo notícias diárias sobre a infecção por coronavírus. Mas o que é e como podemos nos prevenir?


A família do coronavírus, dependendo da cepa ou seja do seu subgrupo, é responsável por casos de infecções respiratórias desde quadro semelhante a gripes comuns até quadros pulmonares complicados podendo evoluir para a morte, e também quadros gastrointestinais. Todos os coronavírus que afetam humanos tem origem em animais e pode ter como hospedeiros gatos, camelos, gados, morcegos e há uma suspeita que o 2019-nCoV poderia ter como hospedeiro uma cobra de origem ainda não divulgada.


Os primeiros casos da doença ocorreram na cidade de Wuhan, província de HUBEI, na China, com aproximadamente 11 milhões de habitantes (2018), e está sendo investigado se a fonte da infecção seria devido ao hábito dos chineses de se alimentar de iguarias como cobras, que pode ter sido o hospedeiro do vírus; O principal mercado que comercializa esse tipo de alimento foi fechado para melhor investigação e esterilização do ambiente. Porém surgiram casos em pessoas que não haviam frequentado ou consumido tais produtos e apresentaram a doença também, sugerindo que ocorre transmissão pessoa- a- pessoa .


Até a data de hoje (3), a China reportou 361 mortes e quase 17,2 mil infectados. Já são 20 países confirmados com casos da doença, são 5 casos nos Estados Unidos, 1 no Canadá e 1 na Alemanha e há outros casos também em outros países europeus, além dos países asiáticos. No Brasil, temos 16 casos suspeitos.


Pelos estudos até o momento que foram divulgados, o vírus circulante que está causando essa epidemia seria a junção de uma cepa encontrada previamente em morcegos e outra que ainda de origem desconhecida. Essa invasão de outros hospedeiros que ainda não haviam sido identificados, provavelmente se deve ao fato de o vírus apresentar uma capsula e nela haver receptores que interagem com as células do infectado, e com as mutações, ou seja mudanças na estrutura do vírus, o mesmo conseguiu invadir as células do novo hospedeiro , e até mesmo no ser humano.


O período de incubação médio , ou seja , o tempo entre o contato com o vírus e o surgimento dos primeiros sintomas, é de 5 dias, podendo chegar até 16 dias. Ainda não há informações suficientes para o período de transmissibilidade, mas ao que tudo indica que mesmo sem apresentar os sintomas , o portador já está transmitindo para outras pessoas.


A manifestação dos sintomas pode ser desde um simples resfriado até casos de pneumonia severa, podendo estar associado a sintomas que estamos acostumados como as chamadas viroses, que são febre, tosse, mal estar, dificuldade de respirar, cansaço, dores no corpo. Faz diagnóstico diferencial com outros vírus como o próprio Influenza, rinovírus, adenovírus que são causas frequentes de gripes que acomete a população todo ano.


Para nós, os casos suspeitos são aqueles que o paciente sintomático veio de viagem da China, ou teve contato prévio com alguém infectado pelo vírus. É importante lembrar que com a globalização, a facilitação de locomoção pelo mundo com viagens realizadas em 1 dia, há a maior possibilidade de propagação da doença. Lembrar que nós estamos em uma cidade portuária onde desembarcam navios do mundo inteiro, além de nossa região estar dentro da cidade com o maior aeroporto do país, e com isso aumentam nossas chances de contaminação.


Até o momento, não há medicações antivirais comprovadas para o tratamento desta doença , e vacinas ainda estão em fase de pesquisa para tentar evitar a contaminação. Portanto, a melhor medida é evitar locais com aglomerações de pessoas, usar álcool gel, lavar bem as mãos; ao tossir ou espirrar utilizar lenços descartáveis e jogue no lixo para diminuir a possibilidade de disseminar o vírus, já que até o momento o que tudo indica a contaminação se dá por gotículas, e objetos contaminados. Ao se considerar que os transportes públicos tem grande circulação da população, ao colocar as mãos nas barras de segurança ou outros objetos, evitar colocar imediatamente aos olhos, boca e nariz sem higienizar as mãos. Também é de grande importância evitar contato com pessoas doentes,e se estiver doente, evite sair.


Estamos passando por um surto de uma doença nova, porém não podemos esquecer das que já circulam em nosso meio, das que já existem vacinas, ou medidas já conhecidas para prevenção. Contamos com a colaboração de toda população para que não se agrave ainda mais a situação do nosso país e do mundo.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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