'Deixaram São Vicente para morrer. Um grande mar de lama'

No dia em que São Vicente completa 489 anos, Kayo Amado, atual prefeito do município, fala sobre seus planos para resgatar o orgulho vicentino.

Por: Alexandre Lopes  -  22/01/21  -  11:53
Atualizado em 22/01/21 - 12:01
Prefeito eleito de São Vicente, Kayo Amado conta como trabalhará pelo futuro da cidade
Prefeito eleito de São Vicente, Kayo Amado conta como trabalhará pelo futuro da cidade   Foto: Matheus Tagé/AT

A cidade de São Vicente completa, nesta sexta-feira (22), 489 anos de fundação.Fundada em 1532 por Martim Afonso de Sousa, é considerada a primeira Vila Portuguesa do Brasil e recebeu esse nome em homenagem a São Vicente Mártir. Com tantas riquezas naturais e com uma população trabalhadora, o município busca resgatar sua história e seu orgulho por dias melhores.


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Para falar um pouco sobre a situação de São Vicente e os planos para o futuro, conversamos com o prefeito recém-empossado, Kayo Amado (PODEMOS). Durante a entrevista, que também está disponível em formato podcast pelo 'Baixada em Pauta', do G1, Kayo desabafou e chegou a afirmar que 'a cidade foi deixada para morrer'.


Confira a entrevista:


ALEXANDRE: Qual o presente que você gostaria de dar para a população vicentina?
KAYO AMADO: Expectativa de dias melhores. Queremos reerguer essa cidade. A primeira Vila do Brasil e que tem uma história linda. O presente que a gente tem que dar é oferecer bons serviços públicos, honrar o dinheiro dos impostos que as pessoas pagam com tanto esforço e fazer o vicentino voltar a ter orgulho da cidade. Credibilidade é a palavra de ordem.


ALEXANDRE: Você começou a construir a sua eleição em 2016. Fazia planos, imaginava coisas. Ao sentar na cadeira do executivo, no início de janeiro, você encontrou uma situação melhor ou pior do que imaginava?
KAYO AMADO: Eu sabia que o cenário seria bastante ruim, bastante difícil. Mas quando a gente senta naquela cadeira e começa a receber, informação atrás de informação, que todas as áreas tem problemas, que todas as secretarias tem problemas, você não encontra uma que está tudo certo. Transformaram a cidade em um jogo de negócio. Deixaram a cidade para morrer. Deixaram uma cidade tão viva, tão bonita, tão rica de belezas naturais, de um povo trabalhador, que foi mal administrada ao longo de décadas e, infelizmente, hoje, quando a gente olha, a gente fala que o cenário é muito mais grave. São R$ 700 milhões em dívidas, mas a gente está aqui para olhar pra frente, superar isso e reerguer São Vicente.


ALEXANDRE: A gente sabe que os desafios são imensos. Mas, de fato, quais são as prioridades máximas da sua gestão nesse momento?
KAYO AMADO: A gente tem que desenvolver a cidade. Não tem outra alternativa. Gerar emprego dentro de São Vicente. Para isso, a gente precisa, acima de tudo, organizar a casa. Todas as pastas tem dívidas e não pagam os seus fornecedores. Não há dinheiro. A cidade fica em um grande mar de lama. A gente vai limpar, organizar, deixar a cidade funcionar bem. Eu quero entregar bons serviços públicos. Vamos gerar emprego, cuidar da saúde para valer, dar uma educação de qualidade e evitar as enchentes. Isso é o desafio de mais de uma década. Hoje, no aniversário da cidade, pensando que daqui a pouco vamos comemorar os 500 anos, essa é a hora da gente começar a planejar esse futuro bom e começar a trabalhar para ele.


ALEXANDRE: Você assumiu a cidade em meio a uma pandemia. Você, como prefeito, claro, recebe pressão de todos os lados. Os pró-lockdown e os contra. Como lidar com essa situação e como fica a campanha de vacinação na cidade?
KAYO AMADO: Bom senso. Conscientização. Priorizar a vida em primeiro lugar e um olhar atento para a questão dos empregos. Tudo isso importa. Por isso é muito importante ser ponderado. Eu sou uma pessoa ponderada e gosto de ouvir e ver a posição de cada um. A gente tem que cuidar muito seriamente. As pessoas precisam voltar a usar máscara, por exemplo. As pessoas estão perdendo o fôlego nessa questão de cuidar. Não podemos ceder. Apresentamos um plano da vacinação para a nossa cidade. De acordo com a distribuição do Governo do Estado, faremos a imunização dos trabalhadores da saúde, dos povos indígenas e das pessoas mais idosas. A expectativa é que o Estado amplie a vacinação, também, para os profissionais da educação.


ALEXANDRE: Durante a campanha você trouxe a proposta de reabrir o Pronto Socorro da Náutica, falou de investimentos em Câmeras inteligentes e falou do fortalecimento da Guarda Civil Municipal. Do jeito que você encontrou a cidade, Kayo, você ainda acha essas ações viáveis a curto prazo?
KAYO AMADO: A gente vai ter que pensar São Vicente fora da caixinha, com criatividade, com inovação, com olhar empreendedor, com olhar de parceria e com o mundo privado e empresarial. Eu tenho buscado o diálogo com empresários para que a gente consiga ter apoios externos. Administrar uma cidade não é só administrar orçamentos. A gente administra pessoas, movimentos sociais, empresas, instituições, igrejas, é um grande conglomerado de grupos de interesse que fazem parte. Então, é claro que a gente tem todo esse sonho. Eu fui visitar a base da GCM e é precária. Como você pode dar essa estrutura para os seus guardas? Não dá para ser assim. O PS da Náutica é fundamental. Um eixo estratégico geográfico para atender uma população gigantesca dos bairros do entorno. A gente precisa daquele equipamento. Só que é um passo de cada vez. Como eu disse, é um dia depois do outro. A gente vai resolver os problemas da cidade. Hoje a gente está interessado, mais do que nunca, em apagar os incêndios que estão acontecendo no CREI. Pegamos um cenário muito difícil de atraso de pagamentos deixados pela gestão anterior. A gente quer, sim, atingir todos os objetivos. Tem outros PS's que foram levantados na cidade. Sem dinheiro para contratar pessoal. Então a gente vai com muita boa gestão, de qualidade, com uma equipe técnica sensacional e muita inovação e criatividade, enfrentar todos os problemas e trazer o nosso plano de governo ao foco.


ALEXANDRE: João Doria nunca visitou São Vicente como governador. Você acha que chegou a hora dele conhecer, de perto, os problemas do município?
KAYO AMADO: A cidade está de portas abertas para Governador, presidente, secretários, mininistros, pAra todo mundo que quiser ajudar. O governador tem um papel fundamental e um olhar estratégico de região e, com isso, ele pode ajudar a nossa cidade, sem dúvida alguma. Eu, inclusive, visitei, no fim do ano passado, o vice-governador, Rodrigo Garcia, e fui recebido de portas abertas. Desbloqueei e apresentei a nossa visão de cidade e como o governo deve nos enxergar. São Vicente não quer briga com ninguém. Queremos portas abertas para que os recursos do Estado venham para que a gente possa desbloquear uma série de projetos que estão parados a nível estadual e federal. Nosso time é qualificado para cada centavo que chegar na cidade ser investido na própria cidade.


ALEXANDRE: Recentemente você deu uma entrevista, na TV Tribuna, com um tom de desabafo, falando que faltava um pouco de tudo. A gente sabe que a transição foi extremamente difícil. Você acha que houve um pouco de irresponsabilidade da antiga gestão, antigos secretários? Enquanto você falava que faltavam insumos básicos, o ex-prefeito, Pedro Gouvêa, postava fotos nas redes sociais curtindo as férias como se estivesse tudo bem na cidade que ele deixou.
KAYO AMADO: Olha, a cultura da transição de governo no Brasil precisa ser rediscutida, repactuada. Hoje, infelizmente, o que a gente percebe é que não há transição. Transição é quando você senta na cadeira de Prefeito e, aí sim, começa a assinar papéis, fazer pedidos oficiais e pedir respostas. Antes, o que a gente tinha, era uma tentativa de transição. Pedíamos informações, esperávamos uma semana e a informação chegava incompleta. A gente teve que planejar governo, montar equipe, gerenciar, colher perfil, tudo ao mesmo tempo, sem mandato para decidir as coisas. Em muitas pastas, o que a gente teve foram caixas entregues sem nada dentro. Foi esse o nosso sentimento. Caixas vazias entregues de uma gestão para outra, inclusive o próprio caixa de dinheiro que nos foi entregue vazio.


ALEXANDRE: Você tem como plano mestre resgatar o orgulho do vicentino. Qual a sua estratégia para isso?
KAYO AMADO: Mostrar para as pessoas que São Vicente é uma cidade linda, rica, cheia de problemas, isso é indiscutível, mas rica de belezas naturais, rica de histórias, de povo trabalhador que levanta cedo e chega tarde para dar o melhor para a sua família. Essa cidade já acolheu tanta gente ao longo da história. Tantos nordestinos que vieram construir sua vida, sua família, por aqui. Tiveram sua primeira casa, criaram seus filhos e, hoje, conseguem ver seus filhos estudando, tendo emprego, chegando na faculdade. É esse orgulho que temos da nossa família que precisamos trazer para o cenário da nossa cidade. Pra que isso aconteça, a gente precisa de todo mundo. O governo precisa, de fato, representar as pessoas e emitir bons sinais. Mostrar que está ali. Eu digo para você. Eu tenho uma dedicação extrema. Todos esses dias eu tenho ido até tarde. Passado da 0h, se for preciso, para trabalhar muito pela cidade que eu vivo e amo desde o meu primeiro dia de vida. Eu não vou desistir da cidade. Eu não vou ceder. O cenário é adverso, é difícil, mas a gente vai até o fim nessa história de recuperar o orgulho da nossa cidade. Temos praias lindas e cachoeiras incríveis. De pouquinho em pouquinho, a gente vai chegar lá e mostrar que São Vicente é um orgulho para a Baixada.


ALEXANDRE: Prefeito, para finalizar, qual mensagem que você deixa para o morador de São Vicente nesse dia tão especial, de aniversário da cidade?
KAYO AMADO: Eu quero dizer para vocês que primeiro é um dia de dar parabéns para a nossa cidade, para a nossa história. Eu conto com cada vicentino. É um parabéns, mas também um dia de chamado, de conscientização acima de tudo. O aniversário da cidade vai ser marcado por atos simbólicos que nos conscientizem sobre as coisas em diversas pastas, diversas áreas sobre a nossa própria vida. Conscientização. Por a mão na consciência. Entender que todo mundo é parte da cidade e que a cidade só vai crescer se cada um fizer a sua parte. Eu garanto para vocês. A minha parte eu vou fazer. Se cada um fizer a sua, a gente vai transformar essa cidade em uma grande potência. Se Deus quiser. Parabéns, São Vicente!


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