Viagem à memória

Viajar, conhecer lugares e voltar para casa; tão importante quanto a experiência é o seu registro, mas cuidado para não exagerar!

Por: Ronaldo Abreu Vaio & Da Redação &  -  18/04/21  -  17:20
  Foto: Marcos Piffer

Se uma imagem vale mil palavras, uma viagem vale mil imagens? Imagem é tudo, mas nem tanto: é a justa reprodução de um sentimento novo, diante de uma nova visão ou experiência. Nesse conceito, a imagem que se registra hoje, a memória agradece amanhã, quando a experiência ou visão já forem parte da nossa história. Assim, rever as fotos, ou, hoje em dia, os vídeos, é viajar de novo sem sair de casa, pois a viagem é toda do coração.


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“Nunca se fotografou tanto, mas se vê muito pouco. É uma contradição”, analisa o fotógrafo Marcos Piffer, ele mesmo um viajante que sempre traz na mala olhares e memórias, seja de trabalho ou de férias. “Tem um significado grande pra mim. Mesmo quando viajo ‘de folga’, com a família, é complicado relaxar. Não que seja penoso, mas tô sempre pensando na foto”.


Sobre a contradição de se registrar sem ver, que é uma outra forma de ver sem enxergar, Piffer relembra uma ‘tirinha’ de Millôr Fernandes, que já tem umas boas décadas – portanto, ainda anterior ao advento da foto digital, em que se esse processo se acelerou.


Segundo recorda, um casal está diante de uma paisagem belíssima, em alguma viagem, registrando tudo com uma câmera ainda do tipo VHS (Sistema de Vídeo Caseiro, do inglês). Num dos balões, o homem diz: “não vejo a hora de chegar em casa para assistir”.


Experiência emocional


Piffer considera que o analógico, a foto no papel, dava um outro sentido à própria memória. Visitar um álbum físico de fotos era uma experiência emocional que evocava de maneira mais intensa o tempo, o lugar e as pessoas presentes nas imagens.


Essa experiência, segundo crê, se dilui no subsolo das pastas dos computadores e dos celulares, onde se costumam armazenar as imagens digitais. “Venho dessa cultura: se não houvesse no papel, não existia”.


Da memória à exposição


Piffer também analisa a mudança de relação das pessoas com o que é registrado. Evoca a artificialidade das ‘produções’, em vez do mero registro da cena. Por exemplo, na praia, o mar ao fundo, as pessoas sob a mira da lente para uma selfie, uma encolhe a barriga, a outra olha o chapéu, mais uma muda o sorriso, faz o biquinho, enfim, cria-se uma cena. “Tenta-se chegar a uma verdade pra elas próprias”.


Essa busca da cena perfeita é fruto das novas funções do registro. Com as redes sociais, a foto expandiu o seu escopo: para além de relicário da memória, confunde-se com a própria experiência, que não existe sem a exposição pública. Assim, viajar é postar.


“Quanto que a gente perde de aproveitar o momento para registrá-lo?”, questiona-se Piffer. Porém, “a gente se apropria de um pedaço do lugar que visita, pela foto”, crê. É tudo uma questão de encontrar a conta e o limite das coisas. No equilíbrio mora a melhor viagem.


Inesquecíveis


A seguir, em fotos, duas grandes viagens de que Marcos Piffer mais se recorda. Uma para Paris, em 2009 (“era tudo muito interessante, fotografei demais”); a outra, ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, em 2018, onde realizou uma travessia a pé, durante quatro dias. Passou as noites nos oásis, dormindo em redários alugados pelos moradores por R$ 20,00, a noite.“Foi o meu Caminho de Santiago de Compostela”, sorri.


Chuva nos Lençóis Maranhenses – Baixa Grande


Esta imagem simboliza as contradições do tempo numa viagem. Fui numa época quando a estação das chuvas já havia terminado, mas apesar disso nosso primeiro dia de caminhada foi debaixo de um grande temporal. A imagem mostra a chuva se aproximando e a potência dela


Amanhecer nos Lençóis Maranhenses – Queimada dos Britos


Neste dia começamos a caminhar às 4hs da madrugada, pois seria o dia do percurso mais longo, creio que uns 21km, não me lembro exatamente. O dia nasceu límpido e cristalino apresentado as lagoas e dunas em toda a sua beleza.


Paris – Catedral de Notre Dame


Assim que chegamos, logo depois de deixarmos as malas no hotel, fomos até a mítica catedral, presente em tantos livrosjá lidos e estudados. Deixei propositalmente nossas sombras – minha, deminha filha e de minha mulher – registrados no chão diante de uma das portas da igreja, marcando nossa presença indiretamente.


Paris – Arco do Triunfo


Quando fotografo sempre olho para baixo,para o chão. As texturas e sombras criam desenhos que poucos percebem. Nesse dia,ao visitamos o Arco do Triunfo, percebi a presença de um casal de japoneses na minha frente,e mais uma fez compus a imagens com a presença deles, sem mostrar de fato as pessoas.


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