Eugenio C: um ícone dos mares

Com os cruzeiros suspensos, a viagem é recordar um ícone dos mares

Por: Ronaldo Abreu Vaio & Da Redação &  -  11/04/21  -  23:34
Com os cruzeiros suspensos, a viagem é recordar um ícone dos mares
Com os cruzeiros suspensos, a viagem é recordar um ícone dos mares   Foto: Fotos: Vanessa Rodrigues

A cena já é familiar de tão corriqueira: entre um cargueiro e outro, lá vem ou vai um navio de cruzeiro singrando as águas da Barra de Santos. Na temporada 2018-2019, por exemplo, entre novembro e abril, 11 transatlânticos do tipo frequentaram com assiduidade o Terminal de Passageiros Giusfredo Santini. Mas nem sempre foi assim: houve uma época em que os navios de cruzeiro eram mais raros. E entre os raros, havia uma joia: o Eugenio C.


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“Ele já foi construído com o intuito de ser um navio de cruzeiros”,explica Emerson Franco Rocha da Silva, de 48 anos, um aficionado pelo Eugenio C, que tem uma história pessoal e familiar com o navio.



De propriedade da Linea C (hoje Costa Cruzeiros), o navio fez toda a diferença com essa particularidade de ter sido pensado, já no estaleiro, para realizar cruzeiros. Mas em 31 de agosto de 1966, quando deixou o porto de Gênova, na Itália, com destino a Buenos Aires – parando pela primeira vez em Santos – chegou como a +maioria das embarcações então: como um navio de passageiros.


Pelo mar


Emerson explica, até os anos de 1960 e 1970, o mar era o caminho mais acessível ao deslocamento intercontinental. Navios como o Eugenio C, por exemplo, faziam uma viagem com passageiros por mês. Até então, os cruzeiros eram uma atividade tampão, para não deixar os navios ociosos entre as viagens pelo mundo.


“Você tinha a primeira, a segunda e a terceira classes; nesta última, nem banheiro individual havia nos navios. Os restaurantes de cada classe eram em andares diferentes, não havia contato (entre os passageiros)”, conta.


Segundo Emeson, assim era nos outros navios da própria Linea C, o Anna C (o mais antigo), o Federico C, o Andrea C e Enrico C – todos passaram por aqui. Como nos cruzeiros havia classe única, o espaço da chamada terceira classe nunca era utilizado. Já com o Eugenio C, todos os 1.636 lugares eram ocupados, tanto em viagens de passageiros quanto cruzeiros.


“O restaurante, por exemplo, era em um único andar, separado por divisórias para selecionar as classes (no modo ‘passageiros’). Em cruzeiros, era retirada”, explica Emerson.


Outra particularidade dos navios de passageiros, que o Eugenio C mantinha, era espaço para cargas e animais. “As pessoas ficavam meses fora e não havia, por exemplo, o costume de alugar carros. As mais abastadas levavam os veículos”, conta.


Pelo ar


Durante 30 anos, até 1996, o Eugenio C visitou o porto santista com regularidade. Mas nos anos 1980, o avião conquistou de vez o seu céu de brigadeiro na preferência dos milhares de imigrantes portugueses, espanhóis e italianos que voltavam da América do Sul para rever a terra natal.


Assim, a partir de 1983, o Eugenio C passou a ser utilizado apenas para cruzeiros. Com todo o glamour que os tempos ainda impunham, antes da popularização de hoje em dia. “Você não entrava no restaurante de bermuda”, resume Emerson, que fez três viagens, em 1994, 1995 e, na última de todas, em 1996.


O glamour era amplificado ao se descobrir, por exemplo, que Elza Soares e Garrincha, Dorival Caymmi, Helô Pinheiro, Bruna Lombardi, Beatriz Seagall, Cacá Diegues e Luiza Brunet, entre outros, muitos outros, ganharam os mares a bordo do Eugenio C. E mais ainda: reza a lenda, foi a bordo do icônico navio que teve início a lendária parceria entre Vinícius de Moraes e Toquinho.


Mas como toda história inevitavelmente tem começo, meio e fim, o do Eugenio C começou a delinear-se em 1997. Nesse ano, o navio foi vendido para a companhia norte-americana Direct Cruises e rebatizado como Edinburgh Castle.


Em 1999, foi novamente vendido, para a Premier Cruise. O casco foi pintado de vermelho e o Eugenio rebatizado como The Big Red Boat II. Não durou: em 2000, com a falência da companhia, deteriorou-se em um porto das Bahamas até ser vendido e desmanchado por um estaleiro indiano, em 2006. “De Santos a Lisboa, ele fazia em oito dias. Foi o navio mais rápido que houve. E também muito bonito”.


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