Portos do Arco Norte superam pela primeira vez o Porto de Santos em exportação de grãos

Participação no total nacional, que era de 16,6% em 2009, subiu para 37,1% em 2022

Por: Bárbara Farias  -  12/02/23  -  20:33
Porto de Santos ainda exporta 63% da produção nacional de soja e milho, segundo a CNA
Porto de Santos ainda exporta 63% da produção nacional de soja e milho, segundo a CNA   Foto: Alberto Marques/AT/Arquivo

Os portos do Arco Norte exportaram 52,3 milhões de toneladas de soja e milho, superando pela primeira vez o Porto de Santos, que teve 46,8 milhões de toneladas embarcados em 2022. Os complexos portuários brasileiros que estão acima do chamado paralelo 16 (linha imaginaria que divide o Brasil em duas partes) aumentaram a sua participação no total nacional, que era de 16,6% em 2009, para 37,1% ano passado. Contudo, o salto não significa perda de carga para Santos. Os dados são da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).


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O Sistema Belém/Barcarena, no Pará, e o São Luís/Itaqui/Ponta da Madeira, no Maranhão, os dois maiores complexos portuários do Arco Norte, exportaram 17,4 milhões de toneladas (+12,3%) e 18 milhões de toneladas (+12,8%), respectivamente, puxando a curva de crescimento no ano passado. “A soma dos dois perfaz mais de 35 milhões de toneladas, são 10 milhões de toneladas a mais em relação a 2021, quando esses dois complexos somaram 25 milhões de toneladas”, apontou a assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA, Elisangela Pereira Lopes, que assina o estudo comparativo iniciado em 2009. “Houve um desempenho extraordinário, porém, numa tendência de crescimento levando-se em conta a quebra da safra do ano passado”.


No entanto, Elisangela ressaltou que o maior aproveitamento dos embarques pelo Arco Norte não significa perda de carga para o Porto de Santos. “O que está acontecendo é uma redistribuição geográfica da carga. Ao invés de a gente percorrer de caminhão 1.500 quilômetros ou 2 mil quilômetros, a carga é destinada ao porto que estiver mais próximo. Não tem de enfrentar distâncias tão longas que aumentam o custo de transporte. E Santos tem um facilitador que é uma ferrovia em sua porta. A ferrovia é um modal de transporte com tarifa de frete menor do que o rodoviário”, observou.


Segundo a assessora técnica da CNA, um fator que contribuiu para o incremento das exportações de grãos pelo Arco Norte é o aumento expressivo da produção agrícola na região, que passou de 56 milhões de toneladas em 2009 para 169,9 milhões de toneladas em 2022. “Em 2009, a produção das áreas de novas fronteiras, que envolvem Mato Grosso, Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e o Pará, era de 52%, e as consolidadas, predominantemente Sul e Sudeste, 48%. Hoje, acima do paralelo 16 ou novas fronteiras, a produção já representa 71% e abaixo, no Sul e Sudeste, caiu para 29%. Em razão disso, as exportações tomaram outros destinos que não os portos de Santos e Paranaguá. Passou-se a exportar mais pelos portos do Arco Norte”, explicou Elisangela.


Outro fator foram os investimentos em infraestrutura de acesso aos portos, como a conclusão das obras da BR-163, ligando o centro de Mato Grosso ao Porto de Miritituba (PA) e a Ferrovia Norte-Sul, que facilitou o frete de retorno no escoamento de fertilizantes. “Mas o marco foi a Lei 12.815, de 2013, que permitiu à iniciativa privada solicitar autorização à Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) para construir os seus próprios terminais portuários e as estações de transbordo de carga, passando os produtos do caminhão para uma barcaça, como o de Miritituba e Tegram (no Porto do Itaqui, no Maranhão)”, citou. Elisangela também mencionou melhorias nas rodovias BR-364, que se estende até Porto Velho (RO), na BR-163, até Miritituba (PA), na BR-158 e na BR-153.


Porém, a assessora técnica da CNA esclarece que, apesar de 71,2% das produções de soja e milho estarem concentradas nas regiões de novas fronteiras, as exportações ainda predominam nos portos do Sul e Sudeste. “Predominantemente, Santos exporta 63% e Paranaguá, 15%, porque o Arco Norte ainda precisa de mais terminais”, disse.


Cenário


De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), “na safra 2021/22, Mato Grosso produziu aproximadamente 84,72 milhões de toneladas de soja e milho e, desse total, exportou 49,1 milhões de toneladas em 2022, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.


O Arco Sul movimentou 50,06% desse total, enquanto o Arco Norte obteve 49,94% de participação, com destaque para os portos de Barcarena (PA), Santarém (PA), São Luís (MA) e Manaus (PA). Já o Porto de Santos foi responsável por 45,71% das exportações de grãos do estado de São Paulo, totalizando 22,44 milhões de toneladas, atingindo valores recordes.


A análise da série histórica de exportação entre 2016 e 2022 aponta que a taxa de crescimento anual dos portos do Arco Sul foi de 3,17% enquanto a dos portos do Arco Norte foi de 17,84%, indicando um crescimento mais acentuado ao longo do tempo”.


Análises


O consultor portuário e sócio-diretor da Agência Porto Consultoria, Ivam Jardim, afirmou que “uma vez que a otimização da produtividade tenha evoluído, o crescimento da produção deve se dar cada vez mais pela busca de novas áreas, e, dessa forma, o Norte do Mato Grosso e o sul do Pará aparecem com maior disponibilidade para essa expansão. Nesses locais, a logística mais favorável para a exportação é realmente o Arco Norte”.


Já em relação à competitividade do Porto de Santos, Jardim fez uma importante ponderação. “Com a expansão ferroviária da Malha Norte até Lucas do Rio Verde-MT (projeto Ferronorte), o Porto de Santos ganhará competitividade na região. Mas, caso a Ferrogrão, que ligará Sinop (MT) até Itaituba (PA) ocorra antes, a tendência é que grande parte desse volume seja exportado pelo Arco Norte devido ao menor custo logístico. Os dois projetos, sob esse ponto de vista, são concorrentes e apenas um deles deve se viabilizar no curto e médio prazo. Em um cenário futuro para a logística e o desenvolvimento do Brasil, o ideal seria a implantação de ambos, além da conexão com a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) para que o exportador possa optar entre diversas rotas consolidadas de exportação, tendo opção de escolha da melhor disponibilidade de capacidade e do menor custo logística”.


Procurado por A Tribuna, o diretor-presidente da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), Murillo Barbosa, disse que o Porto de Santos “não está perdendo carga de grãos de exportação para os portos do Arco Norte, conforme mostram os dados levantados pela ATP a partir de informações da Antaq".


Barbosa frisa que "segundo a Antaq, em 2022, a exportação de cereais e sementes pelo Porto de Santos foi de 41,7 milhões de toneladas, crescimento de 28,78% em relação ao ano anterior. A movimentação pela exportação por meio do Arco Norte foi de 50,1 milhões de toneladas no ano passado, o que representa aumento de 31,9% em comparação com 2021. Isto porque, nos últimos anos, houve aumento da produção brasileira de grãos e, consequentemente, da exportação, também realizada pelo Arco Norte”.


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