Frederico Bussinger: Riscos

Nesta coluna, Bussinger fala sobre como devemos considerar os riscos para tentar minimizá-los, tomando como exemplo Brumadinho

Por: Frederico Bussinger  -  01/02/19  -  21:10
Frederico Bussinger: Planos demais, planejamento de menos
Frederico Bussinger: Planos demais, planejamento de menos   Foto: (Vanessa Rodrigues/AT)

“Insanidade é continuar fazendo 
sempre a mesma coisa e esperar 
resultados diferentes” (Albert Einstein)


"Você pode encarar um erro como uma besteira a ser esquecida, ou como resultado que aponta nova direção" (Steve Jobs)


"Viver é perigoso. 
Muito perigoso!" (Guimarães Rosa)


Sim! Preces por consolo, e solidariedade a familiares e amigos das vítimas da tragédia de Brumadinho. Em memória delas poderíamos, também, assumir o compromisso de virar esse jogo?


Mesmo em meio à comoção, alguns se gabam de haver sugerido isso e aquilo. Outros pinçam fatos e os articulam em apoio às suas teses políticas: se depender deles, pouca esperança há! Tampouco daqueles que, exalando sabedoria, garantem ter há muito previsto a catástrofe, ou asseveram tratar-se de “caso fortuito”. Será? 


“Há riscos?”, é pergunta frequente a quem administra empresa ou órgão com exposição pública. “Sim” é a única resposta honesta ... Apesar de desagradar o senso comum: parece disseminada, inclusive na/pela imprensa, a ideia de que há ambientes “com riscos” (portanto, falhas ou acidentes são inevitáveis ou iminentes) e aqueles seguros, ou seja, imunes a eles. Essa visão binária, determinística, é contrariada pelas investigações do renomado físico Leonard Mlodinow, em best-seller apresentado por Stephen Hawking: “O andar do bêbado”.


Alegórico, o título não revela seu cerne: I) Riscos sempre existem; ainda que em graus distintos. Daí não ser atrevimento, p.ex, indagar-se o alcance de “a cava subaquática (no Porto de Santos) não oferece risco” (notícia desta semana); e II) Seu subtítulo sintetiza o tema central: “Como o acaso determina nossas vidas”.


Nós, engenheiros, somos dissuadidos em ser “He-Man” (“eu tenho a força!”): aprendemos a não ter a pretensão de eliminar os riscos; mas buscar minimizá-los. Daí, primeiro, conhecê-los; ponto de partida também para elucidação de acidentes, o que sempre deveria preceder a busca de culpados e discussões sobre indenizações. 


Já no campo do agir, na linha do apóstolo Paulo (“Pois, quando sou fraco, então é que sou forte”), nos é ensinado: I) Adotar fatores de segurança (algo tipo uma materialização do SMJ dos advogados); e II) Como riscos sempre existem, para a hipótese de acidentes, buscar minimizar os danos (humanos, ambientais ou materiais), como do centro administrativo em Brumadinho: relevante conhecer-se as premissas assumidas para localizá-lo no vale à jusante da barragem, não?


Cada alternativa definida tem seu preço, razão pela qual o arranjo adotado no projeto é uma complexa solução de compromisso entre riscos e custos globais. Como tal relação não é estática ao longo dos anos de vida da obra/sistema, monitoramento é necessário continuamente; inclusive como base para prescrição das mais adequadas ações de manutenção e operação.


Temos dificuldades com a aleatoriedade, explica Mlodinow. Adotá-la como referência conceitual e comportamental, e passar a considerar os (inevitáveis) riscos, ao contrário de revelar fraqueza ou conformismo, pode contribuir com nosso planejar e gerenciar. Com a tomada de melhores decisões. 


E, isso, como indicam diversos outros estudos, como os do psicólogo Daniel Kahneman (Nobel de Economia - 2002), não apenas em relação a infraestruturas, mas também nas nossas decisões pessoais do dia a dia.


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