Empresas trocam caminhões para investirem em navios

Escolha corresponde a mais de um milhão de viagens rodoviárias que deixaram de ser feitas em 2018

Por: Estadão Conteúdo  -  14/01/19  -  20:31
Investigação constatou que rombo na Codesp é de até R$ 37 milhões
Investigação constatou que rombo na Codesp é de até R$ 37 milhões   Foto: Carlos Nogueira/AT

Diversas empresas redescobriram a navegação de cabotagem como alternativa mais econômica ao frete rodoviário, depois do tabelamento que encareceu o transporte feito por caminhões. No ano passado, foram movimentados mais de um milhão de contêineres de 20 pés entre osportosao longo da costa brasileira, segundo a Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac).


É uma marca recorde, que corresponde a mais de um milhão de viagens rodoviárias que deixaram de ser feitas em 2018. Historicamente, o custo do frete de cabotagem é até 20% mais barato do que o rodoviário. Mas, responde por apenas 11% da movimentação de carga entre todos os meios de transporte.

"Com a greve, empresas que já usavam a cabotagem aumentaram os volumes transportados, e quem não usava passou a usar", afirma o presidente da Abac, Cleber Cordeiro Lucas. Ele diz que a greve dos caminhoneiros deu um impulso adicional à cabotagem, que vinha em expansão nos últimos anos.


No primeiro semestre, antes dos desdobramentos da paralisação, os volumes transportados pela cabotagem cresciam 13,5% em relação ao ano anterior. Mas, depois da greve, o ritmo anual de expansão subiu para 15,6% até setembro, aponta a Abac.


A Aliança, maior empresa de navegação de cabotagem, teve aumento de 28% no volume de cargas do primeiro para o segundo semestre de 2018. "Foi o maior crescimento para esse período da história da empresa", diz Marcus Voloch, diretor. O salto ocorreu porque houve migração de cargas rodoviárias para a cabotagem por causa da alta do custo do frete em razão do tabelamento. "Buscamos clientes novos, mas aumentou a conversão", diz o executivo, destacando que a empresa fez dois anos em um.


A previsão inicial da companhia era ampliar em 8% o volume de cargas transportadas em 2018 em comparação com a o ano anterior. No fim, o avanço foi de 16%.


Apesar de a empresa operar desde 1999, pela primeira vez em 2018 transportou em seus navios melancia, melão, laranja e tangerina, de São Paulo para Manaus (AM), em contêineres refrigerados. "Também nunca tínhamos transportado caixa d'água, levamos de Santa Catarina para o Nordeste."

Marcos Tourinho, diretor da Santos Brasil, que opera terminais logísticos, confirma que a movimentação de cargas de cabotagem da empresa nosPortosde Vila do Conde (PA) e Imbituba (SC) foi recorde no ano passado. "Com receio de que a greve se repita, empresas buscaram diversificar o frete, e isso nos favoreceu."

Nordeste

As rotas de cabotagem mais procuradas são as que partem do Norte e Nordeste para o Sul e o Sudeste. Antes do tabelamento, o transporte de cargas em caminhões do Norte e Nordeste para o Sul e Sudeste era barato porque se tratava de frete de retorno. Como o polo de produção do país fica nos estados do Sul e do Sudeste, os caminhões retornavam praticamente vazios do Norte e Nordeste. Por isso, o valor desse frete nessa rota era baixo. Mas, com a obrigatoriedade da tabela, o frete de retorno deixou de existir e as empresas do Norte e Nordeste tiveram de buscar saídas econômicas.

Localizada em Maracanaú, a 24 quilômetros de Fortaleza (CE), a Esmaltec, fabricante de geladeiras e fogões, especialmente para o consumidor de menor renda, teve uma aumento de 80% do custo do frete rodoviário para Sul e Sudeste, após o tabelamento. A saída, conta o superintendente Aélio Silveira, foi despachar os produtos acabados de navio.

Hoje 40% dos eletrodomésticos são escoados de navio, especialmente para o Sul e Sudeste. A meta da companhia até dezembro é despachar 50% da produção por navios. A empresa nunca tinha usado cabotagem para transportar produto acabado, apenas as matérias-primas.

"Com o uso da cabotagem, conseguimos reduzir pela metade o impacto da alta do frete rodoviário, que subiu 80% por causa do tabelamento", diz Silveira. O frete responde por 7% do custo do eletrodoméstico.

Fornecedor

A Leroy Merlin, gigante do varejo de materiais de construção com 41 lojas no país, decidiu regionalizar as compras de itens pesados e que ocupam grandes volumes nos caminhões, a fim de reduzir o impacto da alta do custo do frete. Tintas mais baratas, pisos e revestimentos de baixo valor passaram a ser comprados localmente para as lojas do Nordeste e Centro-Oeste. "Desde junho, aumentamos em 70% as compras regionais no Nordeste e em 50% no Centro-Oeste", conta Adriano Galoro, diretor de compras da rede varejista.


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