Caminhoneiros que atuam no Porto de Santos falam em desistir da profissão em meio à alta do diesel

Profissionais relatam imensa queda nos lucros e a extinção do motorista autônomo: "Vou parar"

Por: Ágata Luz  -  21/03/22  -  07:33
Atualizado em 21/03/22 - 15:15
Hugo Sérgio Ferreira atua como autônomo há três anos, e se diz desanimado depois do aumento dos combustíveis
Hugo Sérgio Ferreira atua como autônomo há três anos, e se diz desanimado depois do aumento dos combustíveis   Foto: Flávio Hopp/AT

Após passar mais da metade da vida atuando como caminhoneiro, Pedro Luis Joannoni diz estar prestes a abandonar a profissão. Aos 55 anos, ele procura novas oportunidades de emprego para tocar a vida – e não é o único com este pensamento dentro da categoria. O motivo? O salto de 24,9% no preço do óleo diesel, anunciado pela Petrobras no último dia 11.


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Profissionais que atuam no Porto de Santos relataram a imensa queda nos lucros. “Eu estou desistindo. Chego a ficar 60 dias fora de casa para não levar nada”, resume Joannoni, dizendo que só trabalhará enquanto seu caminhão não precisar de manutenção.


Desiludido, ele enfatiza que já se colocou à disposição de vagas para outros trabalhos e pretende parar com a profissão que exerce há 35 anos assim que precisar trocar o pneu, por exemplo. “Vou parar. O óleo diesel não deixa mais nem fazermos a manutenção do caminhão. Por isso, (o caminhão) anda caindo aos pedaços. Se um dia isso melhorar, volto”, enfatiza ele, que mora em Piracicaba (SP).


O caminhoneiro destaca que a falta de manutenção no veículo traz riscos. “Não tem mais jeito, o autônomo vai acabar”, desabafa.


Desânimo
Hugo Sérgio Ferreira, de 36 anos, também é autônomo e se diz muito desanimado com a profissão de caminhoneiro após o aumento dos combustíveis.


“A margem de lucro foi muito reduzida e a gente já sofre há muitos anos com isso. A cada dia que passa, fica mais difícil”. Casado e com dois filhos, ele afirma que o orçamento familiar foi impactado, mas é pela família que “ainda está rodando”.


Dos dez anos na estrada, Ferreira trabalha como autônomo há três. Ele mora em Ribeirão Pires (SP), mas está na Baixada Santista a trabalho. “A gente chega a pensar em desistir porque, do jeito que estão as coisas, se tiver mais uma alta dos combustíveis, não teremos como evitar uma paralisação. Não vai ter como a categoria suportar isso”.


Apesar dos caminhoneiros autônomos sentirem com mais intensidade os impactos do aumento do combustível, os profissionais empregados em empresas de transporte de cargas também sentem os reflexos do reajuste.


“Por mais que eu não seja o dono do caminhão, sinto reflexo na minha comissão. As viagens mais rentáveis que a gente fazia, para Mato Grosso e Rondônia, com R$ 30 mil o frete, já não compensam mais”, explica Helder Lisboa Junior, de 38 anos.


Ele diz que o valor dos combustíveis acaba ‘substituindo’ o valor que era investido em pneu, pedágios e alimentação, por exemplo. “No final da linha, todo mundo vai sentir no prato”. Morador de Santos, ele considera a profissão em que atua há cerca de 20 anos “ingrata e sofrida”. “Ainda é possível viver, porém mais para frente eu já não sei”.


Reajuste deverá ser repassado para empresas

O presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), Luciano Santos, afirmou que o aumento do combustível impacta muito a vida dos profissionais. “Somos transportadores autônomos e cada dia que passa está pior”.


Desta forma, ele afirmou que o sindicato irá repassar os aumentos para os armadores e empresas a fim de que o preço do serviço também seja reajustado. O assunto já foi tema de reunião do Sindicam, que já elaborou uma sugestão de tabela com o preço do frete reajustado em 25%, considerando o aumento do óleo diesel.


O próximo passo é se reunir com representantes do setor rodoviário que atuam na Baixada Santista para chegar a um acordo e repassar o custo adicional a embarcadores, armadores e transportadoras. “Caso não aceitem, provavelmente a categoria vai cruzar os braços”.


Empresas

Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista (Sindisan) explicou que o diesel representa cerca de 35% dos insumos da atividade de transporte, número descrito como “considerável”. “Entretanto, temos recebido relatos de empresas que estão conseguindo realinhar seus fretes, até porque os embarcadores e seus parceiros comerciais estão entendendo a gravidade da situação”.


O sindicato ainda explicou que não “interfere nas relações comerciais das empresas”. Porém, cita em nota que, “em virtude dos fortes impactos na atividade de transporte rodoviário, a Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística divulgou no último dia 10 um comunicado com a orientação para que o frete seja reajustado emergencialmente em, no mínimo, 8,75%”.


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