Anvisa autoriza desembarque de tripulantes de cargueiros novamente no Porto de Santos

Isso ocorre em função de mudanças nas regras que foram impostas pela Anvisa na fase mais severa da pandemia

Por: Fernanda Balbino  -  16/11/22  -  17:04
De acordo com a resolução 579, o desembarque dos marítimos está autorizado sem a necessidade de comprovante de vacinação
De acordo com a resolução 579, o desembarque dos marítimos está autorizado sem a necessidade de comprovante de vacinação   Foto: Divulgação

Tripulantes de navios cargueiros estão autorizados a desembarcar novamente no Porto de Santos. Isso foi possível graças a uma mudança nas regras impostas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na fase mais severa da pandemia de covid-19. A questão já havia sido flexibilizada em outros países.


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No ano passado, a autoridade sanitária determinou que apenas os marítimos com retorno previsto aos países de origem estavam autorizados a desembarcar nos portos brasileiros. Nesse caso, era necessária a comprovação de passagens aéreas e o desembarque deveria acontecer horas antes do embarque no aeroporto. Também era permitida a descida de tripulantes que necessitassem de atendimento médico. Isso acontecia quando eles deixavam o navio e seguiam direto para hospitais da Cidade.


Porém, segundo os tripulantes, as normas já foram flexibilizadas em outros portos do mundo. A questão foi levada à autoridade sanitária pelo Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), que pleiteava a mudança na norma. Após diversas reuniões, uma nova resolução, a número 579, foi publicada no último dia 3.


Agora, o desembarque e a licença para descer em terra (shore leave) de tripulantes, brasileiros ou estrangeiros, de procedência internacional que já tenham efetuado o controle migratório estão autorizados. Isso também vale para os marítimos que embarcaram em território nacional.


De acordo com a resolução, o desembarque está autorizado sem a necessidade de comprovante de vacinação contra a covid-19 ou de realização de teste para rastreio da doença. Porém, isso vale para marítimos que “não se enquadrem na classificação de caso suspeito, confirmado ou contato próximo”.


Já a entrada no País de tripulantes, brasileiros ou estrangeiros, de procedência internacional, está autorizada desde que seja apresentado, ao responsável pela embarcação, comprovante de esquema vacinal primário completo contra covid-19 ou teste negativo.


Solicitação

De acordo com o diretor-executivo do Sindamar, José Roque, após a publicação de reportagem em A Tribuna, a necessidade de mudança na norma da Anvisa foi discutida em reunião da Comissão Nacional das Autoridades nos Portos (Conaportos). Foi solicitada pelo representante dos agentes de navegação o princípio de isonomia como adotado para os navios de cruzeiros e aviões por se tratar de uma questão humanitária.


“Essa demora reputamos como desumana, tendo o navio se transformado em presídio com os tripulantes vivendo em cárcere privado, confinados, com prejuízos à saúde mental, enquanto em outros países já havia sido liberada a descida para que tivessem momentos de lazer, com passeios, compras de presentes para a família etc.”, afirma Roque.


Ele conta que o Sindamar recebia telefonemas de esposas e noivas dos tripulantes com pedidos de informações. “Nos últimos dois anos, o pessoal só se falava por celular ou vídeo e isso acabava provocando estresse. Há comandantes estrangeiros casados com brasileiras e a relação com a família ficou isolada no quesito presencial”.


Todos os dias, milhares de marinheiros recebem apoio religioso, social, psicológico e humanitário
Todos os dias, milhares de marinheiros recebem apoio religioso, social, psicológico e humanitário   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Organizações apoiam decisão

A Missão aos Marinheiros e a Stella Maris, duas organizações cristãs que trabalham no cuidado com marinheiros em diversos portos do mundo, incluindo o Porto de Santos, comemoram essa decisão. As organizações, das igrejas Luterana e Católica, atuam juntas prestando serviço religioso, social, psicológico e humanitário a milhares de marinheiros diariamente, independentemente da sua religião, nacionalidade ou gênero.


Durante as visitas diárias às tripulações a bordo dos navios, as equipes veem a importância da nova resolução, pois influencia diretamente na saúde mental dos marinheiros. “O bem-estar psicológico, juntamente com a saúde física, é parte essencial de nossas vidas e afeta nossos pensamentos, comportamentos e sentimentos. Um estado emocional saudável pode promover a produtividade e a eficácia em atividades como o trabalho, a escola e a vida diária”, explica a coordenadora da Missão aos Marinheiros, Kathrin Grund.


Segundo ela, o desembarque em terra tem um grande impacto na saúde mental e as estatísticas mostram que essa realidade, inclusive, diminui as chances de acidentes de trabalho. Isso porque a vida cotidiana a bordo é dura, barulhenta e monótona.


Por esse motivo, durante a pandemia, os marinheiros enfrentaram muitos dilemas. Os fatores como rotina estressante, guerra nos seus países de origem, crise econômica, tempo excessivo a bordo, dificuldade de comunicação com familiares e amigos e o risco de acidentes tornaram o ambiente de trabalho um espaço desafiador.


“Desde o começo da pandemia, em março de 2020, estamos esperando que os marinheiros sejam tratados de forma humana e justa. Temos questionado muito o direito fundamental à liberdade, especialmente diante da flexi-bilização em todos os outros espaços da sociedade”, afirma o pastor da Igreja Luterana de Santos e capelão portuário da Missão aos Marinheiros, Felipi Schütz Bennert.


A maioria dos marinheiros é vacinada e, mesmo sendo um grupo bastante isolado, por conta do tempo que passa no navio, sem contato com outras pessoas, eles são testados constantemente. “Agora, podemos nos preparar para o Natal e organizar uma festa especial para os marinheiros. Estamos muito felizes. Também podemos mostrar-lhes a cidade ou dar-lhes as boas-vindas ao nosso clube de marinheiros. Para nós, é um recomeço desse trabalho centenário”.


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