Rodrigo Zanethi: O comércio exterior brasileiro pós Covid-19

Preparar o futuro é essencial e o d.C. poderá ser o início de uma nova era em nosso tão sofrido e maltratado país

Por: Rodrigo Zanethi  -  30/04/20  -  21:39
Porto movimentou mais de 1 milhão de TEU de janeiro a março deste ano, um aumento de 15,4%
Porto movimentou mais de 1 milhão de TEU de janeiro a março deste ano, um aumento de 15,4%   Foto: Carlos Nogueira/AT

O calendário mais utilizado no mundo é o gregoriano, criado pelo papa Gregório XIII, tendo como marco inicial o nascimento de Jesus Cristo, o ano 0. Discute-se se a aceitação em grande parte do mundo deste calendário deve-se realmente a questões religiosas ou se os europeus, na época, os expoentes na cultura, economia e comércio, buscaram convencionar o uso da marcação de dias para facilitar o relacionamento entre as nações. 


Este intróito justifica algo inevitável, o fato de que, no aspecto social, científico, econômico e comercial, estamos diante de um novo a.C. e d.C.: antes e depois de Covid-19. 


Os aspectos sociais e científicos, deixo aos especialistas. Vamos ao campo comercial e econômico. A Organização Mundial do Comércio (OMC) projeta que o comércio mundial em 2020 cairá abruptamente em todo o mundo e em todos os setores da economia, com uma queda no comércio global de mercadorias, em um cenário otimista, de 13% em comparação a 2019, podendo chegar a 32% ou mais. E tais números, apesar de temíveis, são possíveis. 


A China apresentou, no 1º. trimestre de 2020, um PIB negativo de 6,8%. Os EUA amargam, segundo especialistas do mercado financeiro, uma expectativa de encolhimento de até 34% em seu PIB no 2º semestre de 2020, apesar de que Trump acredita em um 4º trimestre excelente. A Europa, sofrendo um processo de estagnação econômica, sairá bastante ferida de toda essa crise. E o Brasil? 


Obviamente, dependente dos produtos chineses e norte-americanos, se verá em maus lençóis neste primeiro semestre, apesar do ponto fora desta curva: o agronegócio. 


E após o ápice da Covid-19, o que será do nosso comércio exterior? Acredito que o Brasil deveria começar a planejar políticas eficazes para alavancá-lo. Na exportação, o cenário é simples. Grande parte de nossos produtos possui mercado comprador e, ante a desvalorização do real, temos preços competitivos. E ante o cenário político, não se vê o dólar baixar dos R$ 5, o que é interessante ao agrobusiness. 


Mas a preocupação maior é em relação a importação. Importar não é ruim. Ante a nossa fraca produção industrial e falta de qualquer perspectiva de uma reforma tributária e política que possa destravar a nossa economia, a facilitação na entrada de mercadorias seria medida essencial para o comércio exterior. O Brasil deveria buscar junto ao Mercosul a redução de alíquotas para mercadorias estrangeiras essenciais, como matéria-prima e maquinário. 


Ademais, o importador não consegue operar com um dólar cotado em R$ 5,72. A ideia de uma trava no dólar parece saudável. Fala-se em “travar” o dólar no valor de 31/12/2019 (R$ 4,52), que, apesar de alto, causa um respiro ao importador, que hoje vê possibilidade de abandonar a sua mercadoria pois não tem condições de arcar com o peso dos tributos. 


Importadores, face o silêncio do governo, procuram o Judiciário para diferir o pagamento dos tributos incidentes na importação, saída justa, pois não se está falando em perda de receita, mas, sim, em um adiamento no recebimento. E por que não se pensar em um diferimento mais longo, principalmente nos produtos a serem industrializados no final da cadeia produtiva? 


Redução no IPI-Importação, tributo nefasto dentro da cadeia de importação. Revisão nos contratos de arrendamento portuários, favorecendo o terminal e o usuário. E também andou bem o Governo ao prorrogar o prazo para atendimento dos compromissos assumidos no drawback. E ainda ao avançar com a cabotagem. 


Que o efeito Covid-19 não gere mais protecionismo, perigoso para o comércio mundial. Preparar o futuro é essencial e o d.C. poderá ser o início de uma nova era em nosso tão sofrido e maltratado país.


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